29 de maio de 2014

O amor é o melhor enfeite

Tela: Oysters (1862), Édouard Manet

O amor é o melhor enfeite.
Ouvi dizer. Verdade.
Quando amo,
sou comida crua
na panela quente.
Meu amor me faz.

Ele me descasca,
tira terra e pedras,
me lava,
me enche de ervas,
cebola e alho,
me embebe no óleo,
me esquenta.
Com borbulhas,
cheguei ao ponto.

Ele me tira,
me põe no prato
com um desvelo
de chef concentrado.
(Limpa as beiradas.)

E esmerada assim
desfilo no salão:
"Linda!"; "Apetitosa...".

Triste estrela:
meu amor me prepara,
mas não me tem.
Me enfeita pele e alma
pro paladar de outro alguém.

Tela: Still life with kettle (1867-69), Paul Cézanne


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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