Tela: The nightingale's song (1904), Robert Walker Macbeth |
Todos os dias,
ao pé da minha janela,
tem barulho de água
derramando.
Passaria despercebida,
se não escorresse
à noite, no escuro,
enquanto sigo pensando.
Alguém verte uma bacia?
Sacode sobras da mangueira?
Não sei.
Ela cai na mesma hora.
Líquida e certa,
como o sino da igreja.
Suja? Limpa?
Que importa?
Eis o meu privilégio:
mais uma companhia,
que assiste comigo
ao nascer da madrugada.
Além das chaves que tilintam,
motores que rosnam,
estouros isolados e
cães que ladram,
a água que estala
e em seguida some
silenciosa no chão.