9 de maio de 2014

La persistencia de la memoria

Tela: Still life with anchovies (1972), Antonio Sicurezza

Então é assim?
O resto da vida
ao pegar numa
couve
vou lembrar a Mãe-Ita?

A Mãe-Ita,
a faca, a bacia
azul,
o dourado que vestia
os fios.

Psiu.
Meus trens
valiosos
não tão na bolsa,
bandido.
Pode levar tudo:
não ligo.

Só a demência
me furta a Mãe-Ita,
a couve, a faca,
a bacia.
Se não vier, melhor:
ela comigo
até fenecer meus dias.

Dispensei o divã,
porque não adianta:
o melhor lugar
do mundo
é lá atrás -
por isso me assento
no fundo.

Lembranças são bolas
com as quais brinco.

Não quero parar
o tempo:
quanto mais ele
avança,
mais a memória
aumenta,
mais bolas tenho.
E a couve
da minha avó,
que delícia - ela fica.

Tela: Still Life (1888), Estêvão Silva


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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