Tela: Segler bei stürmischer See Em alemão: Marinheiros em mares tempestuosos - 1898 - Andreas Achenbach |
O mar
é refrigerante
sem tampa,
que retém gás:
não para de espumar.
Refrigerante
com cor de garapa.
Garapa suja,
antes de filtrar,
antes de perder
os fios da cana -
pronta pra tomar.
Mas mar
não se bebe.
Mar se
derrama na praia
e recua
pro fundo de si,
pra de novo
escaldar.
Swinemünde (1922), Willi Stöwer |
O mar
dos meus sonhos
é escuro
sob céu branco,
nublado,
com ondas
que se atiram
e desistem:
bem suaves.
Nada iguais.
Pra mim,
mar e chuva
têm rima -
se um quiosque me abrigar.
Se o mar
não é verde esmeralda,
pra quê
melhor clima?
Pra quê
céu azul
pra ficar assistindo
à maré avançar,
soterrar a canela
do vovô esquecido,
apagando
vestígios
de quem se pôs
a andar?
O mar
é refrigerante
espalhado.
Nesse tempo
fechado,
traz cor de garapa.
Alga seca,
estrela tonta,
concha quebrada.
Não ligo:
apenas olho,
respiro.
E me ponho
a pensar...
Seascape with Distant Lighthouse, Atlantic City, New Jersey (1873), William Trost Richards |