Tela: Eleanor (1907), Frank Weston Benson |
Ao fundo
ouvi uma cantiga
vaga.
Sabia que era música,
só não pude discernir.
A tarde estava no meio:
o sol se distendia
como um carro
a 130
a que não se obsta
a pista.
O ar -
esse também era
puro:
deixou o som
cruzar a rua
e chegar até mim.
Cantiga
que me sustinha
o curso e me trazia
ao raso
fatos tão guardados.
Não sei
precisar quais eram.
Nítido
ficou apenas
que me veio do fundo
um tempo
em que cantar cantigas
me fazia bem.
Hoje,
não importa
o que tenha:
nada me torna
plena.
Sou árvore de Natal:
cismei que a beleza
descansa no excesso.
Quando basta
uma estrela
na ponta,
pra despertar
o encanto.
E fazer toda boca
sorrir.
Fotografia de Paul Burrows |