Belo Horizonte, 12 de março de 2014.
Mamãe Querida,
Cê não acredita no que aconteceu hoje! Passeávamos no shopping, quando o Farney olhou pra mim com os olhinhos pretos estatelados e ouriçados e me disse: "O Tostão! Aquele ali é o Tostão!". Eu o vi. De costas. Calça cáqui, cinto, camisa clara. Baixo, meio gordinho. Calvo, com os cabelos brancos - branquíssimos - compridos, cobrindo a nuca. De costas, mamãe.
Parecia o Vinícius de Moraes. Só que com o cabelo mais encaracolado. Parecia um pinguim andando. Ele andava quase bailando. O Tostão! Farney me falou com um sorriso no rosto (nem parecia atleticano), como se me instigasse a ir até ele. Tostão andando pelo corredor amplo e meio vazio. Não quis. Não tive coragem. Vimos a Fernanda Young lanchando com a irmã (?) no Market Place e eu também não quis incomodá-la: baixinha, magrinha, cabelo e vestido pretos, rosto lindo, fragilzinha. Cheia de tatoos pelos braços.
Ai, meu Deus!
Não resisti. Decidi segui-lo. Fui correndo, empunhando e empurrando o carrinho novo do Jaime Augusto. Cadê ele? Cadê o Tostão? Entrou na livraria? Entrou na farmácia? À medida que eu imaginava a possibilidade de vê-lo de frente, meus olhos marejaram. Sim, eu me emocionei. Ídolo do Cruzeiro (nosso time); Tricampeão Mundial de Futebol em 70 no México; excelente e elogiado cronista esportivo da Folha de S. Paulo. O Tostão!...
Cadê ele? Comecei a quase chorar...
... Lembrei a maquiagem no meu rosto, não quis me borrar.
Fui pescoçando aqui e ali...
... Comecei a pensar que o Tostão foi ídolo do Vovô Jaime, que meu avô querido, calvo e cruzeirense o viu jogar no Mineirão, que ele foi ídolo seu, do Padinho, da Dindinha, do Tio Luiz Carlos... Ah, mamãe....
... Abraçar o Tostão seria abraçar um tempo de glória do Brasil, do Cruzeiro, de Belo Horizonte! Seria quase como abraçar o Vovô Jaime! Eu sei que o Tostão tem um pedacinho do Vovô Jaime. Eu sei. Porque Vovô Jaime o amou.
E assim, quase engasgada, sem achar Tostão algum, fui diminuindo os meus passos - a essa altura o atleticano Farney também queria muito (re)vê-lo.
Fui parando, parando, olhando em volta, desistindo. Desisti. Ia ser um papelão olhar pro Tostão e chorar. Deixei-o com seu andar de pinguim rumo a seus compromissos. Deixei-o seguir seu caminho de cronista. (Ultimamente ando me contentando com muito pouco. A possibilidade me basta - pra quê a realidade?) A mim me bastou os cabelos brancos e o andar engraçado do Tostão. É isso, mamãe.