Fotografia de George Hodan |
A cidade
se desliga
devagarinho.
Vai freando
até parar.
Um ou outro
barulho tosco
escapa aqui
e acolá.
Ora, calem-se
janelas velhas,
carros possantes,
motores teimosos!
Deixem
o silêncio
vingar.
Vingar
sobre o ruído
externo
e esta combustão
interna
que não para
de brilhar.
Deixe o nada
prevalecer
sobre buzinas,
resmungos,
estalos de interruptores,
persianas que voam,
torneiras que escorrem.
O silêncio.
Como o cheiro
da nicotina
que acusa
o cigarro,
que o silêncio
inunde o lar,
as curvas,
nodoando o ar.
Nem um grilo,
asas ou zunido,
molas de cama,
nada
abafe o silêncio.
Este,
que gesto no coração,
nutro com o Desejo
e espero
que nasça agora.
Madrugada chegou.
Com ela, enfim,
o silêncio.
Fotografia de George Hodan |