20 de março de 2014

Chiu

Fotografia de George Hodan

A cidade
se desliga
devagarinho.
Vai freando
até parar.

Um ou outro
barulho tosco
escapa aqui
e acolá.

Ora, calem-se
janelas velhas,
carros possantes,
motores teimosos!

Deixem
o silêncio
vingar.

Vingar
sobre o ruído
externo
e esta combustão
interna
que não para
de brilhar.

Deixe o nada
prevalecer
sobre buzinas,
resmungos,
estalos de interruptores,
persianas que voam,
torneiras que escorrem.

O silêncio.

Como o cheiro
da nicotina
que acusa
o cigarro,
que o silêncio
inunde o lar,
as curvas,
nodoando o ar.

Nem um grilo,
asas ou zunido,
molas de cama,
nada
abafe o silêncio.

Este,
que gesto no coração,
nutro com o Desejo
e espero
que nasça agora.

Madrugada chegou.
Com ela, enfim,
o silêncio.

Fotografia de George Hodan


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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