Tela: Appuntamento al n.16 di Piazza Mercantile a Bari vecchia (Sem Data), Guido Marzulli |
Francisco
é o nome do mendigo
que me toca
o interfone
vez em quando.
Sujo,
roto,
carregando uma vara
comprida
e quinquilharias -
lhe falta um dente
de cima.
(Mas curto
o boné desbastado.)
Quando desço
com pão, biscoitos,
água ou
café com leite,
me cobra:
"Trouxe o radinho?"
Não.
Meu pai lhe deu
um.
"Roubaram", me diz.
Levo meu ouvido.
Minha prosa.
Francisco e eu proseamos.
Passam meses
e ele pergunta:
"E seu pai? Sua mãe?
Seu menino?
Onde sua irmã
mora? Ah... É mesmo".
E me conta
que a tia matou
um porco,
que vai ter
uma festa no sítio,
que é pr'eu "ir lá".
Também tira
o boné da cabeça,
pra me mostrar
um galo
(que não vejo),
que lhe bateram
enquanto
"estava dormindo".
"Chamei a polícia!" -
alerta.
Dá vontade
de falar:
"Entra pra dentro,
Francisco.
Minha casa é sua".
Não dá.
Então me despeço,
corto a conversa
no meio
da rua
e retomo
as escadas do prédio -
uma a uma
até meu refúgio
das dores do mundo.
Tela: Jeune homme à la fenêtre (1875), Gustave Caillebotte |