Imagem de Craig Sunter from Manchester, UK |
O aroma do tempo
se desdobra na
sala,
entre as costas
e a caixa torácica
do homem galante
de chapéu preto
e outros mais
que não posso ver.
Uma linha
de lã
que Deus puxou,
que se desenrola
entre campos,
bosques e espaços,
amarrando pelo
pescoço
o velho, o moço,
a criança.
O tempo estraga
cabelos,
lambe as faces,
deixando-as
rugosas, ásperas,
por mais que
tentem despistar com
injeções, fios
e máscaras.
O tempo resseca
madeiras e tábuas,
enferruja e torce
corrimões e escadas,
amarela livros, paredes,
nos rouba
avós, amigos, doentes.
O tempo não é
irmão:
é um senhor
indiferente,
muito gordo e onipresente,
que sem desculpa
ou permissão
leva memória e viço,
torna o presente, passado;
o futuro, parte da história.
Para todo o sempre.
Imagem de Peter Forster |