Tela: Au Moulin de la Galette (1892), Ramon Casas i Carbó |
Hoje saí pra procurar
você.
Bom andar sem olhar
pra ninguém.
Queria reconhecê-lo
pelas costas,
o cheiro,
a voz.
Claro que ia dar errado.
Claro que encontros
sonhados, ao acaso,
só na ficção.
Fui assim mesmo.
À direita, à esquerda,
olhei pro escarpim
de tachinhas douradas
e pensei: "Ele viajou.
Está longe. E eu
aqui".
Desci frustrada
na tarde de sol
meio fria.
Estiquei o braço arroxeado
pro carro branco
me pegar.
Entrei. Fui aos trancos
- sinais abrindo e fechando.
Cheguei um farrapo.
Peguei o livro de Rimbaud
que comprei,
pra matar minha sede
de beleza.
Todos os dias pergunto
ao bom Deus:
"Quando, quando, quando
vou vê-lo outra vez?".
Tela: Dans le bleu (1894), Amélie Beaury-Saurel |