Tela: "São João Batista" Ano: 1600 - Artista: El Greco |
Evangelho Segundo São João (Jo 3, 28-30) |
O filme O Óleo de Lorenzo conta a história dos esforços de um casal para reverter a doença que acometeu o seu filho: a leucodistrofia ou ADL. Causada pelo excesso de gordura saturada no sangue, a ADL corrói a mielina, que reveste os neurônios. Sem a mielina, a transmissão dos impulsos elétricos ou estímulos nervosos no cérebro fica comprometida, acarretando perda das funções motoras e cognitivas (de inteligência).
Desacreditados pelos médicos, Augusto e Michaela Odone, pais de Lorenzo, resolvem pesquisar por conta própria um tratamento. Depois de estudarem livros de Medicina e de organizarem o I Simpósio de ADL, o qual reuniu especialistas no assunto, o casal encontra um meio de reduzir a biossíntese (ou seja: a produção de gordura saturada) no organismo do filho. Eles criam uma espécie de "azeite", que denominam óleo de Lorenzo.
Quando passou a consumir o óleo, a ADL se estabilizou: embora cego, mudo e sem poder andar, Lorenzo era capaz de ouvir e voltou a engolir. Mas, a doença já tinha feito estrago e não havia como reverter seus efeitos. Diante disso, a certa altura do filme, Augusto Odone confronta a sua esposa Michaela: "Sabia que todo o nosso trabalho vai ser pra beneficiar outras crianças?".
É aqui que me lembro de João Batista. Desde o ventre, ele veio para beneficiar Outra Criança: Jesus Cristo. Tamanho era seu propósito de preparar e facilitar os caminhos para o Senhor, que tinha verdadeiro pavor das faltas, do pecado. Queria que todos se arrependessem de seus erros e então fossem batizados, de maneira a se tornarem um povo digno do Messias.
O rigor moral era algo que o Batista impunha aos outros, mas que exigia antes de si mesmo: era austero no vestir (trajava-se com pele de camelo), no comer (alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre) e no seu proceder. Não tinha receio de apontar a hipocrisia de fariseus e saduceus, chamando-os de "raça de víboras", e ainda ameaçava, tendo em conta a iminência de Jesus em seu meio: "O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo".
Assim como Augusto e Michaela Odone abriram caminho para a cura de outras crianças, que não a sua; embora fosse uma figura popular, João Batista negou ser o Messias esperado, sendo apenas o seu Precursor: "Afirmando a superioridade de Jesus, que apontou a seus seguidores por ocasião do batismo junto às margens do Jordão, sua figura parece ir se desfazendo à medida que vai surgindo 'o mais forte', Jesus", conforme escreveram os autores Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
As duas histórias, de Lorenzo e de João Batista, ilustram a importância do papel de coadjuvante no curso dos acontecimentos. Beneficiar os protagonistas é um gesto nobre, porque não espelha egoísmo nem orgulho nem vaidade. O próprio Batista, em relação a Cristo, declarou: "Importa que Ele cresça e que eu diminua". Não à toa Jesus retribuiu, constatando que seu primo João foi "o maior entre os nascidos de mulher".