Tela: "Jesus com os discípulos" Ano: 2016 - Artista: A.N. Mironov |
Evangelho Segundo São João (Jo 6, 66-69) |
O saudoso Padre Léo não gostava da música Anjos de Deus, popularizada na voz de outro padre, Marcelo Rossi. Isso, porque a letra dizia: Não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu/ Só sei que está cheio de anjos de Deus. Padre Léo explicava: "'Não sei'? O céu desceu! Desceu. Jesus veio viver no meio de nós!". Sim. O Evangelho Segundo São João traz um discurso contundente de Cristo a uma multidão na Galileia, esclarecendo que Ele é "o pão da vida, que desceu do céu".
Nas palavras mesmas de Jesus: "Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia".
E quanto à metáfora do pão? Cristo continua: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo".
Essas palavras causaram não só discussão entre os judeus como a dispersão dos discípulos de Jesus: muitos começaram a murmurar e se retiraram, já não andando mais com Ele - para zero surpresa de Cristo, que declarou: "Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido isso".
É aqui que entra a minha passagem favorita de toda a Bíblia. Vendo tantos discípulos indo embora, Jesus pergunta aos Doze: "Quereis vós também retirar-vos?". Pedro toma a frente e reconhece: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens palavras da vida eterna". Ah... Quem nos dera chegar à mesma conclusão!
Porque, apesar de o Brasil ter mais templos religiosos do que o total somado de instituições de ensino e unidades de saúde, conforme o Censo-2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado neste mês, não é isso que parte da população transparece: alguns de nós não agimos como se Cristo tivesse palavras da vida eterna. Por quê? Porque não seguimos o Seu exemplo!
Todas as vezes em que navego na Internet, por exemplo, encontro alguns católicos contra o pontificado do Papa Francisco.
O mais recente pretexto foi o documento Fiducia supplicans, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que autoriza pastores ordenados a abençoarem uniões de casais homossexuais. Recentemente, um grupo de 90 padres, acadêmicos e escritores de vários continentes assinaram uma carta na qual pedem que bispos e cardeais rejeitem o documento, não o implementando em sua diocese.
A alegação de que a Fiducia supplicans contradiria "tanto a Escritura como a Tradição universal e ininterrupta da Igreja" lembra aquela passagem do Evangelho Segundo São Mateus, quando Jesus dirige imprecações contra escribas e fariseus hipócritas: "Ai de vós! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo".
O que os 90 signatários da carta demonstram é uma tremenda falta de misericórdia. Uma desconsideração de que Cristo desceu e esteve entre nós, deixando palavras de vida eterna, as quais nos orientam não ao egoísmo e à prepotência, mas a agir em direção Ao Outro.