Ilustração: "Encontro com os primeiros discípulos" Ano: 1984 - Artista: Jim Padgett Fonte: Distant Shores Media/Sweet Publishing (CC BY-SA 3.0) |
Evangelho Segundo São João (Jo 1, 37-40) |
Gosto da "Parábola dos dois filhos", no Evangelho Segundo São Mateus. Jesus conta a história de um homem que pediu a um dos filhos para trabalhar na vinha, ao que ele respondeu: "Não quero". Mas, em seguida, foi. Daí o homem se dirige ao outro filho e ordena-lhe a mesma coisa, ao que ele responde: "Sim, pai!", mas não vai. Então, Cristo pergunta: "Qual dos dois fez a vontade do pai?"; e Seus ouvintes constatam: "O primeiro".
Alguns de nós somos assim: cristãos na teoria. Dissemos "Sim, Pai" quando fomos batizados, recebemos os demais sacramentos, assistimos às missas, rezamos nossas novenas, enfeitamos nossa casa com crucifixos e imagens de santos e peregrinamos a santuários no Brasil e no mundo. Tudo isso é dizer "Sim". A questão é: nós arregaçamos as mangas e vamos à vinha fazer a vontade do Pai?
Cumprir a vontade de Deus é algo tão sério, que Jesus disse a Seus discípulos que Seu alimento é fazê-la. Ele também alertou: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus". Nem mesmo pregar, expulsar demônios ou empreender milagres no nome Dele se equivalem a fazer a vontade de Deus. No que isso consiste então?
Em seu livro O Evangelho marginalizado (Editora Vozes, 2022), o teólogo espanhol José Maria Castillo afirma: "Seguir Jesus é descer de toda possível glória para identificar-se com os desclassificados e perdidos da história até fazer-se pão e vida". Como o próprio Cristo explicou no mesmo Evangelho Segundo São Mateus, tomará posse do Reino aqueles que deram de comer a quem teve fome, de beber a quem teve sede, acolheu o peregrino, vestiu o nu e visitou o enfermo ou o preso.
Conforme José Maria Castillo: "Aceitar e assumir o cristianismo como seguimento de Jesus, e não simplesmente como religião ou crença, é aceitar a existência vivida à margem, identificando-se com pessoas como os escravos, os estrangeiros, os fora da lei e os considerados malditos de Deus...".
O teólogo espanhol continua: "Não se trata, obviamente, de converter-se num desses apátridas, excluídos ou sujeitos perigosos. Trata-se de viver como próprios os problemas que essas pessoas têm que carregar e resolver. Ou seja: tudo se concentra em remodelar nossa sensibilidade e nossas preocupações de forma que, nessa sociedade e nessa cultura que hoje temos, se encurtem as distâncias da desigualdade, da injustiça, das carências e sofrimentos que marcam grandes segmentos sociais deste mundo tão violento que juntos construímos".
Quando André e um segundo discípulo, instigados por João Batista, seguem Jesus, Cristo lhes pergunta: "O que procurais?". Esse questionamento deveria calar fundo em nós. O que procuramos quando decidimos seguir Jesus? Segurança? As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas Ele não tinha onde reclinar a cabeça! Prosperidade? Cristo recomendou ao jovem rico que vendesse os seus bens para dar o dinheiro aos pobres e só então segui-Lo! E aí: o que procuramos?
Seguir Jesus é mais do que chamá-Lo de "Senhor". Como Ele mesmo orientou, é fazer o que Ele diz - sendo isso o que devemos procurar.