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Tela: La lectura (1880-85), Raimundo de Madrazo y Garreta |
"Livro de cabeceira". A expressão implica dois significados. O primeiro é aquele livro ao qual você sempre volta, pra folhear ao acaso, reler passagens de que gostou ou lê-lo de novo. O segundo é, literalmente, aquele livro que está perto de você ao se deitar, geralmente no criado-mudo. Você o pega pra ficar... Inebriado. Ver umas paginazinhas, depois apagar o abajur ou a lanterninha e dormir.
O meu livro de cabeceira está aqui, comigo. Se é "de cabeceira", não sai de perto de mim. É a
Bíblia Sagrada.
Aqui tem de tudo: terror, suspense, policial, romance, aventura, sexo. Sim, sexo. Dê uma folheada em
Cântico dos Cânticos, pra você ver:
"
À égua dos carros do faraó eu te comparo, ó minha amiga; tuas faces são graciosas entre os brincos, e o teu pescoço entre os colares de pérolas. Faremos para ti brincos de ouro com glóbulos de prata. Enquanto o rei descansa em seu divã, meu nardo exala o seu perfume; meu bem-amado é para mim um saquitel de mirra, que repousa entre os meus seios;
meu bem-amado é para mim um cacho de uvas nas vinhas de Engadi". (Ct 1, 9-14)
Dá pra imaginar o que se faz com a égua, com as uvas... Erotismo puro. Tá na Bíblia.
Assim como estão lá histórias violentas como a do
descarado David. Já ouviu falar? David matou e arrancou 200
prepúcios, pra conquistar Micol (1Sm 18, 20-28). Depois, já rei, em vez de se contentar com as centenas de mulheres que tinha a sua disposição, afora as oficiais, cobiçou e engravidou Betsabé, casada com outro. E pra eliminar o marido, Urias, colocou-o na linha de frente de uma batalha duríssima, onde ele morreu (2Sm 11, 1-27).