1 de agosto de 2014

Qual é o seu livro de cabeceira?

Tela: La lectura (1880-85), Raimundo de Madrazo y Garreta

"Livro de cabeceira". A expressão implica dois significados. O primeiro é aquele livro ao qual você sempre volta, pra folhear ao acaso, reler passagens de que gostou ou lê-lo de novo. O segundo é, literalmente, aquele livro que está perto de você ao se deitar, geralmente no criado-mudo. Você o pega pra ficar... Inebriado. Ver umas paginazinhas, depois apagar o abajur ou a lanterninha e dormir.

O meu livro de cabeceira está aqui, comigo. Se é "de cabeceira", não sai de perto de mim. É a Bíblia Sagrada.

Aqui tem de tudo: terror, suspense, policial, romance, aventura, sexo. Sim, sexo. Dê uma folheada em Cântico dos Cânticos, pra você ver:

"À égua dos carros do faraó eu te comparo, ó minha amiga; tuas faces são graciosas entre os brincos, e o teu pescoço entre os colares de pérolas. Faremos para ti brincos de ouro com glóbulos de prata. Enquanto o rei descansa em seu divã, meu nardo exala o seu perfume; meu bem-amado é para mim um saquitel de mirra, que repousa entre os meus seios; meu bem-amado é para mim um cacho de uvas nas vinhas de Engadi". (Ct 1, 9-14)

Dá pra imaginar o que se faz com a égua, com as uvas... Erotismo puro. Tá na Bíblia.

Assim como estão lá histórias violentas como a do descarado David. Já ouviu falar? David matou e arrancou 200 prepúcios, pra conquistar Micol (1Sm 18, 20-28). Depois, já rei, em vez de se contentar com as centenas de mulheres que tinha a sua disposição, afora as oficiais, cobiçou e engravidou Betsabé, casada com outro. E pra eliminar o marido, Urias, colocou-o na linha de frente de uma batalha duríssima, onde ele morreu (2Sm 11, 1-27).

A Bíblia também é um banquete pra quem gosta de estudar o comportamento humano. Há situações risíveis, como as de Sara e Abraão (Gn 17, 15-22; 18, 9-15) e de Isabel e Zacarias (Lc 1, 5-80), dois casais que tinham dúvidas e até vergonha de esperar pelo primeiro filho, só porque todo mundo ia saber que eles, idosos, faziam sexo. Estavam preocupados com a opinião alheia, de que dissessem: "Ê velharada safada!", como brincava o saudoso Padre Léo.

Nos Evangelhos, os apóstolos matam a gente de rir com a inocência, a ignorância e as falhas deles. Tem uma passagem em que os irmãos João e Tiago pedem a Cristo pra serem "os mais importantes": pra se sentarem a Sua direita no Reino dos Céus! Os outros apóstolos ficaram p..., com medo de "favorecimento". É a oportunidade de Jesus dar a famosa lição: "Quem quiser ser o primeiro, esteja a serviço de todos", ou seja, procure ser o menor, o último. Só assim você será preferido na lógica de Deus (Mc 10, 35-45).

Dentro do humor, tem ainda o que Padre Léo chamava de "as perguntas idiotas de Jesus". Sempre que alguém estropiado chegava perto de Cristo, evidentemente querendo a cura de uma mão seca, de uma hemorragia persistente, de um "espírito imundo" etc., ele perguntava: "Que queres?". Padre Léo brincava: "Sabe, Jesus, eu sou cego de nascença, queria um labrador e uma bengala com buzina pra eu andar sem esbarrar nos fariseus...".

E há várias perguntas como essa acima - tudo dentro da psicologia de Cristo, que queria dar a cura física, mas junto à cura espiritual. Como resposta a Seu "Que queres que te faça?" (Mc 10, 51), Ele esperava de quem o procurava uma profissão de fé, independentemente de seu status social ou religioso.

Uma passagem bonita, que ilustra isso, é quando um centurião O procura. Os romanos eram pagãos, politeístas (hum... Tô rasgando meus conhecimentos em História, hein?). Mesmo assim, ele vai até Jesus e suplica que Ele cure um servo seu, que lhe era muito querido e ardia em febre. Quando Cristo se dispõe a ir a sua casa, o centurião recusa, com um argumento que até hoje lembramos na liturgia da Missa:

"Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz..." (Mt 8, 8-9).

Jesus fica tão admirado, que proclama:

"'Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel'. Depois, dirigindo-se ao centurião, disse: 'Vai, seja-te feito conforme a tua fé'. Na mesma hora o servo ficou curado" (Mt 8, 10;13).

No quesito "aventura", a Bíblia traz a história incrível do fariseu Paulo, que caiu - não se sabe se foi de um cavalo - e de perseguidor feroz dos cristãos, tornou-se um ardente defensor.

As viagens missionárias de Paulo (quatro ao todo), num tempo em que o máximo de tecnologia em transporte era barco e lombo de cavalo, botam Vinte Mil Léguas Submarinas e A Volta ao Mundo em 80 Dias no chinelo. O cara enfrentou prisão, chicotada, facada, apedrejamento, julgamentos injustos... Tudo em nome do ideal. E morreu com a cabeça arrancada. Os Atos dos Apóstolos e as Cartas de São Paulo testemunham isso.

E como ler a Bíblia?

Embora lê-la me entretenha, é claro que eu busco um viés mais reflexivo. Porque a minha meta não é só me inebriar com as passagens românticas ou engraçadas. Eu busco um aprendizado. É a Palavra de Deus, foi inspirada (não, escrita) por Ele e traz ensinamentos pra que eu viva melhor. Eu busco esse consolo, essas lições, já que eu quero ser uma pessoa melhor. Nesse sentido, há vários métodos.

O mais famoso, que é a Leitura Orante da Bíblia, consiste a grosso (bem grosso) modo em ler em atitude de oração ou de modo que a leitura suscite orações. Eu sigo outro método, adotado pelo Monsenhor Jonas Abib e - descobri mais tarde - pelo evangélico Tim LaHaye, chamado de Diário Espiritual.

Ele implica a leitura de um único capítulo da Bíblia por dia, começando pelo Novo Testamento e anotando as Promessas de Deus; os Princípios Eternos; as Ordens de Deus e, por fim, uma Mensagem Dele para mim. Os detalhes de como funciona o Diário Espiritual estão neste Post do Blog a Católica: É fácil ler a Bíblia!.

É esse o meu livro de cabeceira, que você encontra "nas melhores casas do ramo". Não por um acaso, a Bíblia é um Worldwide Best Seller, ou seja, o livro mais vendido do mundo. Recomendadíssimo!


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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