Foto de Vera Kratochvil |
Deus me livre e guarde de voltar um dia de novo à afamada Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Dizer que é “a visão do inferno” é o mínimo. Trocaria ter estado lá por um rolé em qualquer livraria de shopping center. Naquele galpão, onde eu esperava uma experiência literária e, digamos, econômica – comprar livros a bons preços –, não pretendo voltar nunca mais. A seguir, os pontos contra a Bienal do Inferno:
O símbolo simpático da Bienal de SP nada tem a ver com o que vivenciei lá |
Quando pesquisei de novo e localizei a de Sampa, que decepção! O site da Bienal do Rio dá de 10 (DEZ) mil a 0 (ZERO) no da Bienal de São Paulo. Em vez de as editoras/expositores estarem elencados numa única página – como acontece no site do Rio –, você é obrigado a clicar em infinitas páginas organizadas em ordem alfabética e numeradas de 1 até não sei quanto. Que preguiça! Além disso, o mapa de toda a feira tem uma resolução péssima e exige download ou “filtros” pra ser visualizado. Que complicação!
Pior: na noite de sexta-feira, quando visitei o site, não localizei algo relativo a “Como chegar” de jeito algum, por mais que clicasse e clicasse e clicasse. Uma canseira tão grande, que desisti de navegar – minha intenção era estar lá com o mínimo de informação sobre os estandes. Não consegui: trabalhoso demais.
2) Ao chegar ao evento de carona – não sou de São Paulo, e sim de BH –, surpresa: mais de uma hora na fila (das 14h às 15h15), debaixo de sol, me aguardava. E não pense que era a fila “para entrar”, e sim “para comprar” um ingresso de exorbitantes R$ 14. Já na bilheteria, depois de quase 60 minutos sob sol forte, pude provar na pele a sensação de uma vaca no matadouro: grades em curvas infinitas me fizeram dar voltas e voltas e voltas até finalmente estar diante de uma moça atrás de um vidro: “Meia ou inteira?”. (A essa altura, eu já queria ir embora.)
3) Quando achei a tal “entrada número 27” e passei por uma das catracas, perguntei onde poderia conseguir algum tipo de “mapa do evento”, a fim de me orientar naquele galpão horrível e apinhado de gente deitada. Isso mesmo: tive que me desviar e saltar por sobre centenas de pessoas com suas sacolas e mochilas estendidas no chão (!!). Observação: num carpete vermelho i-mun-do. “Vá ali no totem.” “Que totem?”, perguntei à moça com crachá, já que eu não enxergava nenhum. “Ali, ó...” Não vi, mas fui até lá assim mesmo...
... Cheguei a um pequeno balcão branco onde uma única mulher informava a todos ao mesmo tempo. Dei um grito: “Um mapa do evento, por favor!”. Ela abriu os braços e gesticulou: “Não tenho nenhum!”. Ou seja, eu estava adentrando no meu pesadelo: andar me desviando de milhares de pessoas paradas, assentadas ou estiradas no chão sem a mínima ideia de aonde estava indo ou onde poderia estar as editoras que eu procurava! Um CAOS.
Foto de George Hodan |
4) Podia piorar? Calma, que podia. Crianças chorando querendo ir embora; autores como (me disseram) Paula Pimenta, autografando livros na beirada do estande, atrapalhando a passagem das pessoas pelos estreitos corredores; fila pra ir ao banheiro, fila pra comprar comida na tal Praça da Alimentação – “Praça da Fome”, porque vi muitos com cara desolada nas mesas ou em pé aguardando a sua vez de conseguir comida e... Fila pra pagar pelos livros que você – a MUITO custo – pôde escolher. O que me leva ao próximo item.
5) Pelo amor de Deus: se a Bienal do Livro de São Paulo existe desde 1970, até hoje, 2014, não se pensou num jeito de montar uma estrutura no todo e dentro de cada estande, a fim de receber, atender e suportar a multidão de leitores/compradores? Ôxi.
Um exemplo: o estande que a Companhia das Letras montou junto à Zahar era um mini-inferno dentro do inferno da feira. Mais de 50 minutos em pé numa fila superconfusa, que dava voltas sem-fim tal como na bilheteria (porém sem as “grades de matadouro”), que 2 funcionários mal conseguiam organizar. A determinado momento, a única fila dos caixas “se partiu” e foi um corre-corre pra todo mundo que estava mais à frente recuperar o seu lugar. Um horror!
6) A Bienal do Livro de São Paulo é uma enganação pra quem acha que “vale a pena” ir lá pra economizar na compra de livros que se vem “namorando” há um tempo. Veja o meu caso.
No estande da Paisagem/Taschen, comprei 2 livros de Arte que, como eles mesmos anunciavam, estavam de R$ 29,90 por R$ 26,90. Ou seja, economizei um total de R$ 6 pela compra dos dois. No estande fatídico da Cia. das Letras/Zahar, por ter levado outros 2 títulos, tive direito a um desconto de 10%. No frigir dos ovos, economizei lá cerca de R$ 8. Somando R$ 6 + R$ 8, temos R$ 14. Ou seja: paguei R$ 14 para entrar e “economizei” R$ 14! Antes eu tivesse comprado numa livraria de shopping pelo preço real, contudo SEM a experiência desagradável de haver estado na Bienal de São Paulo!
Os 4 livros que, a muito custo, adquiri na Bienal do Livro de SP, em 23-8-2014. Os descontos que obtive mal cobriram os R$ 14 que paguei para entrar no “caldeirão”... |
Depois de quase três horas dentro daquele galpão feio, sujo e apinhando de gente, saí de lá com fome (chupei 2 picolés da Kibon a R$ 4 cada), sede e a certeza de que não caio mais nesta conversa de “Bienal”. SE uma feira que acontece há 44 anos até hoje não sabe “abraçar” seus milhares de visitantes com uma estrutura decente, não merece o prestígio de quem busca uma experiência literária. Caí fora do caldeirão pra nunca mais entrar.
P.S. Ao chegar à casa da minha irmã por volta das 19h, o jornal SPTV da Rede Globo de Televisão mostrou uma reportagem sobre a manhã do mesmo dia em que estive na Bienal. Houve tumulto e até, conforme uma testemunha, gente pisoteada. Viu? Não foi exagero meu.