Tela: Symposion (1894), Akseli Gallen-Kallela |
Tem uns estudantes morando
no prédio ao lado.
As janelas mais altas
que as minhas -
não me deixam ver
sua identidade.
Vez em quando há vultos,
braços que passam
rápido.
Nucas, cabelos aparados.
Quadros, portas de
armários.
Também um crucifixo
na entrada.
Quando se debruçam
pra olhar a paisagem,
não estou perto.
Quando me aproximo,
já deram as costas.
Um aroma de livros
abertos e expectativas
escapa diariamente
de lá
e entra na minha casa.
Gosto
quando suas luzes
seguem acesas
e as minhas
já estão apagadas.
Parecem inconfidentes
tramando um motim
pela madrugada:
"Jamais os grilhões da idade!".
Uma conjuração
pra qual não fui convidada.
(Eu, pela corrente do tempo,
envergada.)
Mas que me contento
em testemunhar de longe,
bem acordada.