Tela: Bailaora (1914), Joaquín Sorolla y Bastida |
Certas são as bailarinas
flamencas
de tapar as pernas:
as passadas denunciam.
Eu, por exemplo:
neste dias pardos
troco a direita
pela esquerda -
desconjuntada feito girafa.
Só que sem o pescoço
comprido
pra alcançar
a melhor parte.
A mim, as jabuticabas
estateladas.
Sobras da árvore
que recolho pra sobrevivência -
sem o bônus do céu
que garantiram a Lázaro.
Triste é cambalear
embriagada de realidade -
se ainda fosse pelo vinho
estaria confortada.
Por isto optei pelo banquinho:
melhor parada na calçada,
que sair por aí
enviesada
inspirando a pena
ou as pedras
de quem passa.
Sim: uma saia comprida
bastava.
Mas não há pano
que chegue
pra ocultar a realidade.