12 de novembro de 2014

A Ostra

Tela: The Oyster Girl (1882), Karl Gussow

O que me mantém firme
é a lágrima
que vai saltar pros meus
cílios,
embaçar a vista
e embargar meu verbo.
Você vai querer retirá-la
e eu vou permitir.

Por isso
aguento este lodo,
esta água turva
e o céu cinza
acima de mim.

E estes pássaros
que não cantam -
azucrinam.

E esta cidade sem mar,
que parece um porto:
nômades;
meretrizes com banca
de santa
e capitães
que compensam no grito
e no tapa
a falta de grana no bolso.

Eu cultivo a minha
lágrima
no meio do burburinho,
mas no fundo de mim.

E não a revelo em vão:
meu pranto sentido
só vai reluzir
quando seu desembarque
me encorajar a me abrir.


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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