4 de dezembro de 2024

Por que perdoar um amigo

Foto: Milton Nascimento
Autor: Carlos Ebert from São Paulo, BrazilGRU
(CC BY 2.0)

A música "Canção da América", um hino às boas e inesquecíveis amizades, completou neste ano de 2024, 45 anos de criação. Nascida do violão e da pena de Milton Nascimento e Fernando Brant, a sua letra diz que "Amigo é coisa pra se guardar/ No lado esquerdo do peito/ Mesmo que o tempo e a distância digam: Não...". Cá entre nós: não é só o tempo e a distância que podem dizer "não" a uma boa amizade. Um deslize ou sobretudo uma traição também abalam esse relacionamento.

A propósito, a mais famosa das traições é a que Judas empreendeu contra Jesus. Sendo um de Seus discípulos mais próximos (era quem cuidava da bolsa comum, ou seja, dos bens do grupo), decidiu entregar seu Mestre e amigo aos chefes dos sacerdotes através de um beijo. Porém, houve uma outra traição marcante contra Jesus, cometida não muito depois dessa, quando outro discípulo, Pedro, nega Jesus por três vezes no pátio da casa do sumo sacerdote Caifás.

Há um dito popular que, embora não esteja nas Escrituras, teria inspiração bíblica: "Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és". Essa expressão faz todo o sentido. De tanto andar com Jesus e se deixar influenciar por Ele, Pedro foi ganhando uma outra cara. Um jeito novo de sentir e de se colocar no mundo. A gente percebe isso muito bem entre as freiras de um convento ou os monges de um mosteiro: ainda que não sejam, parecem iguais, porque compartilham um modo de levar a vida.

Por isto Pedro precisou negar Jesus não uma, mas três vezes: para pelo menos três pessoas diferentes, Pedro estava com Jesus, porque era a cara Dele! O jeito de se vestir, de se portar e até de falar. Não adiantava negar. Amigos deixam um pouco (ou muito) deles na gente. Daí o galo canta, Pedro cai em si, dá-se conta da traição e... Chora. E quanto a Jesus? Perdoa-lhe. Ressuscitado, promove uma refeição com pão e peixe numa praia e faz com que Seu discípulo diga por também três vezes que O ama.

Jesus deu o exemplo. O próprio Pedro havia Lhe perguntado num dia quantas vezes se devia perdoar um irmão que pecar contra a gente, ou seja, que nos trair. Jesus respondeu: "Até setenta vezes sete". Ou seja: sempre, infinitamente. Contudo, isso está acima da capacidade de quase todo mundo. Nós cantamos com Milton Nascimento que "Amigo é coisa pra se guardar/ Debaixo de sete chaves/ Dentro do coração", mas só enquanto ele for perfeito, leal, sem erros. Pisou na bola, é eliminado.

Cá entre nós: como é duro ser seguidor de Jesus! Ele nos pede o que parece impossível. Ele nos pede o que sugeriu ao fariseu Nicodemos: que nasçamos de novo. Nascer de novo é mudar o jeito de ver as coisas, sem a trave da soberba, do orgulho. Disposto a ter um coração misericordioso. Disposto por isso mesmo a cantar, num dia, pra alguém que nos desapontou: "Pois seja o que vier, venha o que vier/ Qualquer dia, amigo, eu volto/ A te encontrar/ Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar...".

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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