Tela: Pilatos Lavando As Suas Mãos (detalhe) Ano: 1308-11 - Autor: Duccio di Buoninsegna |
Algumas composições da Música Popular Brasileira (MPB) nos convidam a... Viver. Como se não o soubéssemos, como se o fizéssemos malfeito. Uma dessas canções é "Como dizia o poeta", na qual a dupla Toquinho e Vinícius de Moraes cantam: "Quem já passou/ Por essa vida e não viveu/ Pode ser mais, mas sabe menos do que eu/ Porque a vida só se dá/ Pra quem se deu/ Pra quem amou, pra quem chorou/ Pra quem sofreu, ai". Em outra música, "Daquilo que eu sei", Ivan Lins canta: "Não fechei os olhos/ Não tapei os ouvidos/ Cheirei, toquei, provei/ Ah, eu/ Usei todos os sentidos/ Só não lavei as mãos/ E é por isso que eu me sinto/ Cada vez mais limpo!". Eu sei de alguém que viveu pela metade, porque ignorou os seus sentidos: Pôncio Pilatos.
Não custou muito a ele, prefeito romano da Judeia, chegar à conclusão da inocência de Jesus. No Evangelho Segundo Mateus, vem explicitado que Pilatos sabia que, por inveja, os chefes religiosos dos judeus queriam ver Jesus morto. O problema é que, mesmo com essa informação, ele não fez nada. Estava nas suas mãos mudar o curso da história. Era dos romanos a prerrogativa sobre a vida e a morte naquela região. Bastava um "Solte-O!" seu para que Jesus fosse libertado e não tivesse que passar por aquela morte cruenta.
Mas, Pilatos se acovardou, contrariando tudo o que seus sentidos lhe diziam - visão, audição e o sexto sentido incluído. Nem mesmo o sonho que sua mulher teve sobre a importância de Jesus o encorajou a seguir suas convicções. Ele estava certo de que Jesus não tinha culpa nenhuma. No Evangelho Segundo Lucas, Pilatos praticamente implora ao povo reunido diante de si pra que aceitem que Jesus nada fez de mal. Mesmo assim, cedendo à turba que gritava "Crucifique-O!", deixou que a sanha assassina dos chefes religiosos dos judeus prevalecesse. E num gesto icônico, como se eximisse sua consciência suja, como se isso o liberasse da culpa, literalmente lavou as mãos.
O psicoterapeuta Flávio Gikovate escreveu que liberdade é aliar vida ao pensamento. Ou seja: só sou livre, quando o jeito com que vivo se alinha ao que acredito. Diante dessa tese, não fica difícil concluir que Pôncio Pilatos não era livre. Liberdade é pra quem não foge das evidências, pra quem não tem medo de enxergar e fazer uma escolha baseando-se no que viu, no que seus sentidos captaram. Isso sim é viver plenamente. Isso se chama seguir a consciência. Quem a segue, não finge que não sabe, não lava as mãos. E, como canta Ivan Lins, só quem não lava as mãos pode se sentir cada vez mais limpo!
O psicoterapeuta Flávio Gikovate escreveu que liberdade é aliar vida ao pensamento. Ou seja: só sou livre, quando o jeito com que vivo se alinha ao que acredito. Diante dessa tese, não fica difícil concluir que Pôncio Pilatos não era livre. Liberdade é pra quem não foge das evidências, pra quem não tem medo de enxergar e fazer uma escolha baseando-se no que viu, no que seus sentidos captaram. Isso sim é viver plenamente. Isso se chama seguir a consciência. Quem a segue, não finge que não sabe, não lava as mãos. E, como canta Ivan Lins, só quem não lava as mãos pode se sentir cada vez mais limpo!