16 de maio de 2025

Nossa Senhora e os Neandertais

Foto: Modelo do homem Homo neanderthalensis
no Museu de História Natural de Viena, na Áustria -
Autor: Jakub Halun (CC BY-SA 4.0)

Noutro dia, num telefonema, um senhor que conheço bem manifestou certa apreensão com o envelhecimento. Disse que não gostaria de chegar à idade de seus pais - que morreram com 95 e 93 anos -, pra não ser cuidado, ficar dependente e "dar trabalho". Durante a nossa conversa, mencionei pra ele o documentário da Netflix a que estou assistindo: Os Segredos dos Neandertais.

Logo no começo, uma informação me enterneceu: a descoberta de um esqueleto Neandertal numa caverna no Curdistão, o qual estava com um ferimento na cabeça, cego do olho esquerdo, sem parte do braço direito, os dedos dos pés quebrados e... Artrite em um dos joelhos. Em volta dele, outros esqueletos. O que isso revelou aos arqueólogos?

Mostrou-lhes que aquele Neandertal, que morreu há 45 mil anos, de idade relativamente avançada, não foi excluído, deixado de lado, mas abraçado por seu grupo. Como disse uma das especialistas: "Essa descoberta sugeria que poderia haver um elemento de cuidado e compaixão na sociedade Neandertal".

Ver essas cenas me evocou uma passagem bíblica que também me enche de ternura: quando Jesus, crucificado, demonstra zelo por Nossa Senhora, àquela altura viúva de José, dizendo a um de Seus discípulos: "Eis aí a sua mãe". Em outros termos: "Cuide dela por mim!". O Evangelho Segundo João em seguida observa: "E desde essa hora o discípulo a recebeu em casa".

Há milhares de anos, um clã Neandertal sustentava um indivíduo gravemente ferido. Incapaz de caçar. Portanto, impossibilitado de ser útil. Isso demonstrava todo um requinte de comportamento por parte de nossos ancestrais - afinal, trazemos um pedacinho do DNA deles conosco, como o próprio documentário da Netflix afirma. Por que então abriríamos mão dessa mesma postura?

Os Neandertais não eram "os estúpidos" que alguns, por desinformação ou preconceito, imaginam. Eram hominídeos bastante humanos, que punham em prática a exortação de Jesus na cruz a Seu discípulo, exortação que também é para cada um de nós. Talvez, se não fôssemos tão utilitaristas, se estivéssemos certos do valor de toda vida, aquele senhor não teria tanto pânico em envelhecer. Saberia que sua tribo o abraçaria ternamente. Até o fim.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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