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Tela atribuída a Christoph Bockstorfer - Ano: 1524 |
Meu evangelho favorito é aquele segundo Lucas. Poderia elencar aqui meus motivos, mas vou citar só um: a passagem sobre Dimas. Não te lembra? É aquele trecho em que Jesus crucificado garante a um dos dois ladrões, na mesma situação que a Dele, que estará Consigo no paraíso. Numa das primeiras vezes em que li (da primeira exatamente, não me lembro), fiquei estupefata: "Como assim? Um bandido ganhando os céus?!?".
Uma das coisas que o catolicismo ou a leitura que o catolicismo faz dos evangelhos têm me ensinado é a GRATUIDADE de Deus. Nós estamos acostumados ao mérito ou àquilo que entendemos sobre mérito: preciso fazer algo determinado ou atender a uma certa expectativa, pra só então merecer a recompensa. Esta é a lógica: eu faço boas obras, daí ganho um (bom) prêmio. Aí é que está: Deus não premia necessariamente só aqueles que, aos nossos olhos, fizeram por onde. Ele é Tão Bom, que Suas benesses podem contemplar a todos: o Pai que está no céu faz Seu sol nascer sobre malvados e bons e faz chover sobre justos e injustos, como está no capítulo 5 do evangelho segundo Mateus.
Embora não seja justiça para alguns de nós, para outros, como o cantor e compositor Gilberto Gil, isso faz todo o sentido, conforme ele expõe na letra de sua canção Abri a Porta: "... E usufruir do bom, do mel e do melhor/ Seja comum/ Pra qualquer um/ Seja quem for". As mãos generosas de Jesus, mesmo ensanguentadas pelos pregos infligidos em Seus pulsos, quiseram GRATUITAMENTE contemplar com o bom, o mel e o melhor um dos ladrões que O acompanharam no suplício da cruz e que a tradição nomeou Dimas. Jesus o fez, porque quis - Suas razões, portanto, só são insondáveis para quem não entende que Deus é magnânimo. E ponto.