2 de janeiro de 2025

Jesus era maluco beleza

Imagem: Jesus Cura o Leproso (1875),
Alexandre Bida

A norte-americana Emily Dickinson escreveu poemas geniais. Um deles fala sobre a loucura:

Demasiada Loucura é o mais divino Juízo -
Para um Olhar criterioso -
Demasiado Juízo - a mais severa Loucura -
É a Maioria que
Nisso, como em Tudo, prevalece -
Consente - e és são -
Objeta - és perigoso de imediato -
E acorrentado -

As comunidades são ordenadas e têm suas expectativas quanto ao comportamento de seus membros. O documentário "Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí", de 2024, mostra como está a vida do jornalista Maurício Kubrusly, de 79 anos, depois de ser acometido pela demência frontotemporal - uma condição degenerativa e progressiva, que altera a linguagem, a memória e o comportamento. Sua esposa, a arquiteta Beatriz Goulart, isolou-se com ele em uma casa no litoral da Bahia. A certa altura do documentário, ela diz: "A sociedade não gosta de ser interrompida na sua lógica harmônica".

Que o diga Jesus! Ele andava com os estigmatizados da sociedade de Seu tempo, aqueles de quem a elite fazia pouco caso, aqueles que até mesmo quem não era da elite evitava... Por essa e outras, acabou sendo tachado de louco pelos próprios parentes, conforme o Evangelho Segundo Marcos.

Emily Dickinson cantou a pedra: quem não se encaixa, flerta com a loucura. A razão estaria com a maioria. Contudo, para estar com a maioria, é preciso abrir mão de ser diferente, da fidelidade a si mesmo. Isso, Jesus não consentiu.

Ele tocou num leproso (quando não deveria fazê-lo, senão ficaria "impuro"); perdoava pecados (colocando-Se no lugar de Deus, o que era blasfêmia); comia junto aos pecadores (o que não era recomendado); não jejuava (quando era esse o costume) e, pra completar - ou piorar -, violava o descanso do dia de sábado, arrancando espigas e curando a mão paralisada de um homem.

Bendita loucura! São esses movimentos que fogem das expectativas sociais que podem levar as comunidades a avançar. Se Jesus não tivesse sido louco (maluco beleza, como cantava Raul Seixas), não aprenderíamos o alcance da misericórdia de Deus - misericórdia que Ele espera que tenhamos uns com os outros. Misericórdia e amor que a Bia Goulart reserva ao seu "Kubra", o Maurício Kubrusly.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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