Tela: Die Tür in das Offene (1912), Egon Schiele |
Você não me alimenta,
mas me sustento em sua porta.
E ela não revela:
nenhum ruído escapa pelas frestas.
Só vento.
E ela é sólida, escura
e veda.
Como é hermética a sua porta:
irredutível em separar
o que vai dentro,
o que vem fora.
A realidade é dura:
cheia de silêncio.
Um silêncio agudo,
que fere a humanidade -
pior
que qualquer xingamento.
Me afeta, mas não me afasto:
sou sentinela.
Ereta, lança em punho
apta pro fato:
vai ser aberta.
Nada me demove.
Sou da fibra da porta -
dobradiças de ferro me elevam.
Nem que eu quisesse
me dobrava.
Mas também sou pó.
Ânimo compacto
num corpo de pó.
Abra!
Até quando essa indiferença retinta?
Abra, que minha força não esconde:
sou finita.
Abra, que o vento vai me espalhar
pra longe...
Quando minha sorte for finda.