Não lembrava que o cheiro de cimento molhado fosse TÃO BOM até subir a rua do frei no domingo de sol. Cimento encharcado me leva à casa que eu visitava na infância, onde roseiras faziam fila espetadas em terras socadas em latões quadrados, que - num dia - armazenaram manteiga, óleo de cozinha... Elas ficavam num jardim pequeno, que eu queria que fosse imenso, como aquele em que Alice se embrenhou e acabou parando no
País das Maravilhas.
Cogitei tirar os chinelos 39 e imergir meus pés 33 na água que descia calma e firme no cimento. Mas era tarde, era na rua. (Não sou maluca.) E tinha pressa. Pensando bem: o que me extasiou? O cheiro do cimento molhado ou a visão da água escorrendo qual lençol engomado e transparente? Não sei. Ou sei: as duas coisas.
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Foto de 1932, autor desconhecido - Fonte: Bundesarchiv, Bild 183-2004-0701-501 / CC-BY-SA |
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Fotografia de Jean Gagnon (2012, Montréal) |
Até agora, quando o sol se põe pela enésima vez no Belo Horizonte, carrego comigo a vontade imensa de percorrer o caminho estreito ladeado pelas rosas
enlatadas. No fundo e detrás do portão, a voz da
Mãe-Ita conversando. Nem ela nem as rosas estão mais aqui. Só tenho o cimento molhado. Que evoca aquela casa e a menina que ficou longe... (Mas que não quero deixar de ser.)