20 de janeiro de 2014

A casa do Salgado Filho

(Fotografia de Shawna Mac)

Não lembrava que o cheiro de cimento molhado fosse TÃO BOM até subir a rua do frei no domingo de sol. Cimento encharcado me leva à casa que eu visitava na infância, onde roseiras faziam fila espetadas em terras socadas em latões quadrados, que - num dia - armazenaram manteiga, óleo de cozinha... Elas ficavam num jardim pequeno, que eu queria que fosse imenso, como aquele em que Alice se embrenhou e acabou parando no País das Maravilhas.

Fotografia de HomeinSalem

Fotografia de HomeinSalem

Cogitei tirar os chinelos 39 e imergir meus pés 33 na água que descia calma e firme no cimento. Mas era tarde, era na rua. (Não sou maluca.) E tinha pressa. Pensando bem: o que me extasiou? O cheiro do cimento molhado ou a visão da água escorrendo qual lençol engomado e transparente? Não sei. Ou sei: as duas coisas.

Foto de 1932, autor desconhecido -
Fonte: Bundesarchiv, Bild 183-2004-0701-501 / CC-BY-SA

Fotografia de Jean Gagnon (2012, Montréal)

Até agora, quando o sol se põe pela enésima vez no Belo Horizonte, carrego comigo a vontade imensa de percorrer o caminho estreito ladeado pelas rosas enlatadas. No fundo e detrás do portão, a voz da Mãe-Ita conversando. Nem ela nem as rosas estão mais aqui. Só tenho o cimento molhado. Que evoca aquela casa e a menina que ficou longe... (Mas que não quero deixar de ser.)



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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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