23 de maio de 2013

Joias e... Amantes

Programa do canal Discovery Home & Health
mostra que a imagem da amante
que ganha belas joias

é pura ilusão: tudo o que elas têm
são migalhas da presença de alguém

Imagem: Gold Jewellery - Fotografia de Terabass

Veja que coisa mais idiota: passeávamos o meu filho Jaime Augusto e eu pelos amplos corredores de um shopping center aqui em Belo Horizonte (BRASIL), até que uma escultura, do tamanho de um punho fechado, aparentemente de cristal, exibida na vitrine de uma joalheria, me atraiu: era uma concha aberta, com uma pérola dentro. Desviei o olhar para a direita e vi gargantilhas de brilhantes de diversas cores, colocadas uma ao lado da outra. Logo abaixo, outra fileira, de anéis, tão coloridos quanto as gargantilhas.

E o que aconteceu? Meus olhos marejaram...

Já ouvi falar de gente que chora diante de um pôr do sol, de uma orquídea rara, de um filhote de passarinho que caiu do ninho e agonizou no asfalto... Agora, chorar diante de uma vitrine de joalheria?!?

Só entendi o que aconteceu comigo, quando um pensamento me veio, na medida em que continuava a seguir pelos corredores largos do shopping center: "A mulher que ganhar uma daquelas gargantilhas, ou um daqueles anéis, deve ser mesmo muito especial...". Ao chegar em casa e comentar o fato com o meu marido Farney, ele me disse: "Ana Paula, homem só dá joias assim quando quer... Você sabe...".

Será?

Tempos atrás, uma conhecida minha me disse que homem quando entra em joalheria é para comprar joias para a amante. Será?

Tenho acompanhado, sempre que posso, um programa novo do canal de TV a cabo Discovery Home & Health: chama-se A Outra. Trata-se de um reality show no qual a apresentadora, uma linda mulher de olhos claros e cabelos bem curtos e loiros, ajuda outras mulheres que há anos (eu escrevi há anos) são amantes de homens casados, que lhes prometeram deixar a esposa para se unirem a elas.

O roteiro é o mesmo, não importa a idade nem o grau de beleza da amante: a apresentadora faz as mesmas perguntas a cada uma delas, incluindo esta, que mais me chamou a atenção: "Que presentes ele já te deu?". Seria a grande hora de se exporem as joias, certo? Afinal, como aquela conhecida minha me disse certa vez, quando se vê um homem dentro de uma joalheria, pode saber que as compras são para a amante...

Fotografia de Vera Kratochvil

Pois bem.

O programa contradiz essa crença: os homens casados, pelo menos aqueles que vi nos episódios a que assisti, são modestíssimos quando se trata de pôr a mão no bolso para agradar a amante. O caso pode durar há 8 ou 20 anos, que durante todo esse tempo, se a tal mulher ganhou uma gargantilha ou um único anel, foi muito. Teve uma, coitada!, que só ganhou utensílios domésticos: batedeira, liquidificador... Tudo para que o tal homem casado pudesse chegar à casa dela... E ser (muito) bem-servido!

A cara de pasmo da apresentadora, Sarah Symonds, é hilária: não importa há quanto tempo ela presta socorro a mulheres enredadas em relações sem futuro algum. O que as amantes são capazes de tolerar por um homem que não lhes dá nada, apenas migalhas de sua presença, é inacreditável.

Outra coisa: as amantes que vi no programa - e também as que conheci ao longo da minha vida - não são bem-sucedidas. Digo, todas dependem financeiramente, de alguma forma, de alguém: da mãe, dos irmãos, de um sobrinho... Embora tenham um emprego, não são realmente "donas do próprio nariz". Acredito, portanto, que nutram uma espécie de fantasia de que o homem casado vai deixar a esposa para sustentá-las.

Mas... Por que estou escrevendo sobre tudo isso?

Resposta: Porque, mais uma vez, descobri que as aparências enganam.

Brincos em ouro e cristal de rocha (quartzo).
Autor: Mauro Cateb, joalheiro brasileiro

Se o programa está certo, se o que ocorre com aquelas mulheres-amantes se aplica a várias outras ao redor do mundo, os homens que entram nas joalherias estão adquirindo ouro (amarelo, branco, vermelho), diamantes, esmeraldas, rubis e safiras não para as esposas, nem para as amantes, e sim, como disse o meu marido, para aquelas mulheres com quem pretendem ter um relacionamento ou alguma outra coisa.

Em suma: ser amante não está com nada. Não vale a pena nem pela desculpa de ganhar "belos presentes".

O programa me fez ver que são todas elas, sem exceção, umas pobres coitadas, que vivem uma farsa, que pode até durar até a morte do "dito cujo", porém, no final, nem ao enterro elas têm permissão de ir. Ficam literalmente na sombra, escondidas como bandidas. Provocando sofrimento nos poucos que conhecem (quase) toda a triste história: pais, irmãos, sobrinhos e até filhos.

As que vi no programa, e as que conheci pessoalmente, aparentam uma idade bem mais avançada do que a que realmente têm. Os olhos não têm brilho. Só há pesar. Acha que estou exagerando? Acredita que ser amante de um homem casado traz alguma benesse que preste? Assista ao programa A Outra e depois comente aqui no Blog A Católica. Se a cara de dor das amantes não for suficiente para convencê-lo, é só prestar a atenção na cara de indignação da excelente apresentadora. Ser amante é de lascar.

Fotografia de Vera Kratochvil

P.S. Confira a sinopse da livro A Outra: a amante do homem casado, da antropóloga Mirian Goldenberg.


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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