12 de outubro de 2012

... E o Vaticano está entre nós

A Católica visitou a exposição Esplendores do Vaticano
em São Paulo (BRASIL) e conta tudo para você:
o que a emocionou e o que a "decepcionou"... Confira neste Post.

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Eu estive lá em 21 de setembro. No primeiro dia, na estreia, caro internauta d'A Católica! Estou falando de Esplendores do Vaticano. Se você que me lê é católico apostólico romano e, como eu, pode dar um pulinho até a cidade de São Paulo (BRASIL), por favor: não deixe de visitar a OCA do Parque do Ibirapuera, que abriga a exposição. A mostra é impecável - eu escrevi im-pe-cá-vel - e, óbvio, imperdível.

Por que comecei dizendo "se você que me lê é católico apostólico romano..."? Resposta: porque senti, de verdade, que os Esplendores do Vaticano estão especialmente voltados para nós. Para quem tem fé e pertence à Igreja Católica. Nós, católicos, mais do que qualquer outra pessoa de outra religião ou alguém que esteja somente interessado nos aspectos artísticos, nas obras de arte, fruímos da mostra Esplendores do Vaticano intensamente. Como ninguém.

Percorrer os corredores e andares da OCA é empreender uma jornada no tempo e (por que não?) no espaço: a partir da chegada de São Pedro a Roma (Itália), passando pela construção da atual Basílica de São Pedro, até o pontificado de Bento XVI. Desde a entrada, quando fui "recepcionada" por dois recrutas da Guarda Suíça, a qual protege Sua Santidade desde a Idade Média, ouvi uma música envolvente que me abraçou e deu o tom solene, respeitoso, de oração mesmo a tudo o que vi a seguir.

É isto: embalada pelo som de uma música que dá todo um clima de sacralidade à exposição, atravessei Esplendores do Vaticano em prece.

E experimentei essa postura bem cedo: a primeira peça exibida - que grande e agradável surpresa! - é o "Molde de gesso de um fragmento da parede vermelha do túmulo de São Pedro. Necrópole do Vaticano ou Scavi. Inscrição em grego: 'Pedro está aqui'". Pedro está aqui...

Juro a você, internauta d'A Católica: naquele momento tive uma vontade quase irresistível de me ajoelhar e rezar. Como, porém, não quis constranger os outros visitantes (certamente nem todo mundo que estava lá era católico), pus a mão no peito, no rumo do coração, e rezei um Pai Nosso em silêncio, contendo minhas lágrimas. Lindo. Afinal, é forte demais: trata-se de onde São Pedro foi enterrado!

Também vi o "Tijolo do túmulo de São Paulo, Provavelmente do século III, Terracota, Basílica de São Paulo Extramuros". As inscrições junto a essas e outras relíquias esclarecem:

Jesus nunca saiu da Terra Santa, mas seus discípulos prosseguiram para disseminar sua mensagem ao redor do mundo.

Pedro e Paulo [representam] a missão dupla da Igreja Católica. Pedro: ministério do bispo para a Igreja local. Paulo: exemplo do pregador que sai pelo mundo para construir a Igreja em novo solo.

O povo romano tinha grande respeito pelos mortos. Ainda que a perseguição dos Cristãos tenha se estendido por mais de 200 anos, o túmulo de Pedro permanece intacto.

Os primeiros Cristãos demonstravam sua devoção religiosa deixando oferendas nos locais dos sepultamentos dos mortos.

Reprodução da placa votiva achada
no túmulo de São Pedro.
Fonte: site Esplendores do Vaticano
Assim, podemos ver a reprodução de uma placa votiva de ouro do século VI ou VII, representando dois olhos separados por uma cruz latina, encontrada encravada no túmulo do Primeiro Papa. Conforme a descrição, o peregrino "está expressando sua gratidão a São Pedro por interceder junto a Jesus na cura de um problema nos olhos".

A propósito, é preciso destacar que ao longo de toda a exposição, as descrições que acompanham as relíquias, obras de arte e outras peças também são uma atração: elas não deixam ninguém se sentir "perdido" ante a belíssima história do Cristianismo e da Igreja Católica que Esplendores do Vaticano quer nos contar. As inscrições nos orientam e explicam tudo o que está exposto, tudo o que veio do Vaticano aqui para o Brasil. Com excelência de conteúdo, precisão linguística e, o que é melhor, sinteticamente.

Não obstante isso, convém a você, internauta d'A Católica, caso esteja interessado e possa visitar Esplendores do Vaticano, "contratar" o serviço de áudio-guia. Custa R$ 10 e trata-se de uma espécie de rádio com fones de ouvido, cheio de teclas numeradas, as quais você aperta diante de algumas peças expostas para melhor compreendê-las. Achei o máximo, porque podemos ouvir comentários de religiosos e especialistas sobre obras como "Pietà, Baixo-relevo de Michelangelo Buonarroti, Século XVI, Mármore":

A teologia católica celebra o paradoxo de Deus tornado homem.

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Pietà, relevo de mármore atribuído a Michelangelo, Roma,
Biblioteca do Vaticano - Obra de cerca de 1546,
conhecida como Pietà de Vittoria Colonna ou Pietà Colonna
Fonte: Wikimedia - Public Domain

Caminhando por Esplendores do Vaticano, aprendemos que antes da atual Basílica de São Pedro, havia a denominada Basílica Antiga, fundada por Constantino - "o primeiro imperador romano cristão":

A partir da conversão de Constantino em meados do século IV, (...) pela primeira vez, os Cristãos romanos podiam deixar de praticar sua fé em segredo - o invisível foi feito visível.

Também segundo uma das descrições da exposição:

O Circo de Nero [onde os cristãos eram levados à força para serem torturados e assassinados] foi demolido, dando lugar à construção da Basílica.

Desse modo, vemos um admirável "Modelo da Basílica Antiga do Vaticano, Professor Giuseppe Marcelliani, 1920-1924, Terracota" e ficamos sabendo que "as paredes da Basílica Antiga apresentavam uma oportunidade de educar e inspirar a congregação, que em sua maioria era composta de analfabetos". Ou seja: elas eram adornadas com cenas talhadas em pedra que ilustravam passagens como as mortes de São Pedro e de São Paulo.

Em meados do século XVI, a Basílica Antiga encontrava-se em ruínas e foi demolida para dar lugar à Basílica Renascentista, que é a igreja atualmente situada na Praça de São Pedro.

Nesse ponto da mostra, pude contemplar a imensa e tocante Pietà de "Michelangelo Buonarroti, Molde de 1975, feito a partir do molde de 1930, feito a partir do original de 1499 - Gesso, pó de mármore". O notável artista italiano esculpiu a dor de Nossa Senhora a embalar o filho Jesus com apenas 24 anos de idade. Além da representação do corpo inerte de Cristo, os detalhes do acabamento do manto que envolve Maria são impressionantes. Ele realmente parece um tecido, e não "feito de pedra".

Michelangelo's Pietà in St. Peter's Basilica in the Vatican
Fonte: Wikimedia - Public Domain

O escultor e pintor esteve envolvido diretamente na construção da nova Basílica e na decoração do teto da Capela Sistina. Dessa forma, o visitante pode ver alguns de seus objetos pessoais, como um enorme "Compasso de Michelangelo (1475-1564), Século XVI, Ferro" e um "Documento Assinado por Michelangelo, 1562, Papel escrito à mão", no qual ele autoriza o pagamento a um gravador pela compra de pedras para a cúpula da nova igreja de São Pedro.

Contudo, essas não são as únicas atrações incríveis de Esplendores do Vaticano.

Garoa paulistana na chegada...
(Vide a capa de chuva no carrinho do meu bebê Jaime Augusto,
que está junto à Vovó Gali e a minha irmã, a Dinda Andréa Cristina)


Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

... E um esplêndido pôr-do-sol na saída do Ibirapuera.
(Estivemos no Vaticano sem sair do BRASIL!)


Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Destaco o "Manto de São Carlos Borromeo (1538-1584), Confecção florentina, Segunda metade do século XVI, Damasco vermelho, brocado amarelo e cor-de-rosa". Padre e bispo com somente 24 anos de idade, ele era sobrinho do Papa Pio IV (1559-1565) e, de acordo com Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini em Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996), "sua divisa trazia como lema uma única palavra: Humildade".

Fiquei minutos incontáveis admirando o manto do santo que, "nobre e riquíssimo", nas palavras de Sgarbossa e Giovannini, "privava-se de tudo e vivia em contato com o povo para escutar-lhe as necessidades e as confidências". Os autores prosseguem: "definiram-no o pai dos pobres: ele o foi no sentido pleno da palavra. Prodigalizou seus bens na construção de hospitais, albergues, casas de formação para o clero...".

Destaco ainda a "Mitra de São Pio V (1566-1572), 1566, Tecido com fios de ouro". Eis a descrição que a acompanha:

Desde 1963, quando o Papa Paulo VI [1963-1978] abandonou o uso da tiara pontifícia, elas [as mitras] são a única cobertura oficial para cabeça utilizada pelo papa. As duas faixas de tecido que ficam penduradas nas costas - chamadas infulae - são símbolos do peso da lei de Deus.

Papa Bento XVI usando a mitra em Munique (Alemanha), em 2006 -
Imagem atribuída a Andreas Püttmann (Inhaber Schreibmayr)

Igualmente, saliento o "Báculo utilizado durante o Jubileu de 1900 com o Símbolo de São Paulo, 1900 - Bronze dourado, cabo de madeira coberto com veludo vermelho". Conforme a descrição, a insígnia...

... é o símbolo da autoridade do papa como pastor do rebanho católico. Este aqui foi utilizado por Leão XIII (1878-1903) no Jubileu de 1900. (...) Este báculo lembra a grande habilidade de São Paulo como pregador.

Papa João Paulo II recebe o báculo durante visita ao Rio de Janeiro (BRASIL), em 1997 -
Fotografia de José Cruz/Abr (Agência Brasil)

Também está lá, para os brasileiros que puderem ver, o "Trono Pontifício do Papa Pio XI (1922-1939), Século XIX - Madeira, veludo, metal banhado a ouro, fio de ouro". Segundo se lê, o trono é o símbolo da autoridade de um bispo "para governar, ensinar e presidir a comunidade".

E mais: achei maravilhoso o "Manto do Beato João Paulo II (1978-2005), 1999, Tecido jacquard em tear elétrico, seda, lurex". Estampado com uma porta dourada contra um fundo azul com raios vermelhos sobrepostos, "o desenho simboliza o sangue de Jesus abrindo as portas para o Paraíso. Vermelho, dourado e azul são as cores de Maria, a Mãe de Deus. Na iconografia tradicional, retratam o Cristo Pantocrator. Elas representam a soberania, a divindade e a humanidade".

Visitante ilustre: meu filho Jaime Augusto, aos 7 meses,
sob um foco de luz na entrada de Esplendores do Vaticano


Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Os espaços ou galerias de Esplendores do Vaticano se dividem em temas e quando chegamos à Liturgia é simplesmente fascinante rever e entender a função de cada objeto litúrgico usado na celebração da Santa Missa. Foi a parte da exposição de que minha mãe, Magali, que é espírita kardecista, e minha irmã, Andréa Cristina, mais gostaram. E é onde podemos ler a seguinte descrição:

As antigas religiões egípcia, grega e romana exigiam separação das partes interna e externa dos templos. Somente os padres podiam entrar e participar das cerimônias religiosas. A adoração cristã quebrou essa tradição. A missa católica é aberta a todos.

Falando em abertura a todos, chamou a minha atenção o espaço dedicado às missões ou ao "Diálogo [da Igreja] com o mundo". Tocou-me ver a "Carta solene com a qual Urbano VIII construiu o Colégio Urbano de Propaganda Fide Urbano VIII, 1627, Pergaminho, seda, chumbo". O visitante é informado sobre o objetivo da instituição:

Treinar missionários para transmitir a mensagem da Igreja Católica além das fronteiras do mundo Cristão.

E ainda que

Os missionários de hoje tomam o cuidado de não impor seus ritos e costumes a outras sociedades. Eles empreendem um grande esforço para traduzir a mensagem cristã de formas relevantes para as pessoas a quem estão ministrando.

Para expressar a tentativa desse diálogo, um enorme "Pergaminho Vermelho Chinês, Século XIX, Seda, papel" salta aos nossos olhos. A tradução do texto é esta: "Um espírito originário do princípio do mundo está destinado a reinar absoluto sobre todas as coisas". De acordo com a descrição:

Textos dessa natureza ajudaram os missionários a vencer a distância entre as religiões.

A "decepção" - sim, eu tive uma, internauta d'A Católica - em Esplendores do Vaticano ficou justamente com o (digamos assim) carro-chefe da mostra: a projeção do teto da Capela Sistina e da pintura O Juízo Final (1536-1541) de Michelangelo, a qual promete nos fornecer uma "experiência multissensorial". Não a tive. Achei o ambiente onde os vídeos são mostrados demasiadamente claro, de modo que prejudica a visualização da projeção. Por mais que eu me esforçasse, não consegui apreciar com nitidez as obras-primas do notável artista. Cansada de esperar "ser tocada" pela tal "experiência multissensorial", segui adiante. Paciência.

Plafond de la chapelle Sixtine - Obra realizada entre 1508 e 1512, por Michelangelo Buonarroti
Fonte: Wikimedia - Public Domain

E eis que cheguei à parte final, na qual desfilei por entre os bustos de vários pontífices, representados em pinturas e esculturas. Fui informada, em um dos textos explicativos, de que foi a necessidade de os fiéis conhecerem "a cara" que os sucessores de São Pedro tinham, que motivou os artistas ao longo dos séculos a retratarem-nos. A propósito, na galeria dedicada a um deles, João Paulo II, tive (aí sim) uma experiência sensorial inesquecível.

Ao me colocar diante do "Molde da mão do Beato João Paulo II, Papa (1978-2005), Cecco Bonanotte, Outubro 2002, Bronze", fui chamada a tocá-lo:

Este molde de sua mão simboliza seu ato de amor e respeito, além de seu desejo por diálogo e perdão. (...) Você está convidado a colocar sua mão na mão de João Paulo II.

Tão logo o fiz, juro a você, internauta d'A Católica, senti calor.

Calor na mão que coloquei sobre o molde da mão daquele a quem carinhosamente chamamos no Brasil de "João de Deus". Mal pude acreditar: numa sala de exposição com ar-condicionado ligado, a fim de preservar as obras de arte, peças e relíquias, pude sentir não um metal frio, um bronze gelado, e sim o calor de uma mão humana!... Foi como se o próprio Papa estivesse me tocando. (Tive a convicção de que a minha postura de visitar Esplendores do Vaticano em prece, embalada pela música sacra, contribuiu para isso.) Lindo. Lin-do.

Molde da mão do Beato João Paulo II, que o visitante é instado a tocar
Fonte: Guia UOL

Fico por aqui. Não sem antes lhe informar que a mostra ficará na OCA do Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo (São Paulo - BRASIL), até 23 de dezembro - conforme a imprensa noticiou. O público pode acessar os Esplendores do Vaticano todos os dias, das 10h às 20h. Os ingressos custam R$ 44 - Andréa Cristina, estudante de pós-graduação, pagou meia-entrada ou R$ 22. Como você já deve supor, não é permitido filmar nem fotografar durante a visita. Mais informações, no site que divulga o evento: esplendoresdovaticano.com.br.

Meus conselhos: vá com tempo - eu gastei mais de 4 horas para ver tudo, fora o pit stop para os deliciosos cafezinhos na chegada e na saída. Hum... - e vá de coração aberto, a fim de imergir no tempo e no espaço. Na imensidão da história do Cristianismo e no brilho dos objetos que estimulam a nossa fé. Saúde e Paz!!

P.S. Confira ainda o novo Post d'A Católica sobre a exposição: ... E o Vaticano CONTINUA entre nós. Saiba das minhas impressões de outras peças na minha segunda visita à mostra.

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com)

Fotografia de Ana Paula ~ A Católica (acatolica.blogspot.com.com)

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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