Atrás da Gare Saint-Lazare, Paris, 1932 |
O homem salta a poça correndo. Um borrão escuro no canto do espaço. Olhando de cima a figura, não dá pra saber se tem carteira, contas ou guarda-chuva. A imagem inversa revela: são ele, o terno e o chapéu de coco. Ver alguém ligeiro dar passo de balé na rua, traz a pergunta: "Pra onde vai nessa pressa toda?".
Também corro. Não sei pra onde, mas sei por que: agarrar o futuro. Compromisso obtuso: o minuto seguinte já é amanhã. O próximo e o posterior igualmente. Amanhã é algo que nos pega sempre, que nos acha todo dia. O dia todo é um suceder de futuros que abraçam como polvo. Não faltam braços pro amanhã se impor. Nada de saltos, ternos, chapéus de coco. Nada de rua.
Sentada na cadeira dura, miro o voo livre sobre a água branda. Atrás uns sacos, uma placa, uma grade ampla. Sim: o homem quer o porvir - esse senhor obscuro.
Le fils de l'homme (1964), Rene Magritte - Fonte: WikiPaintings |
Fonte da fotografia de Henri Cartier-Bresson: Blog do Noblat (03-01-2008)