Perceptível

Tela: Windy Day (1890), Jean Béraud

O mar que estava submisso,

incita a se erguer revoltado;

o que se punha arrumadinho,

espalha para todo lado;

num chapéu, pode dar sumiço

mesmo que estivesse assentado;

acumulador compulsivo,

carrega folhas sob o braço...

Ó Vento: andas de fininho

mas não deixas de ser notado!

Desembaraçado

Foto de Àlex García Martín
(CC BY-SA 2.0)

Mesmo o Sol escolhe um lado (é verdade):

isto de "centro" é para os obtusos.

A hora em que sua cara mais arde

é quando está no meio, sobre o muro.

Pudor

Foto de Murray Foubister (CC BY-SA 2.0)

Constrangido desde cedo (na aurora)

a circular despido - sem nada -

ao contrário da Lua que não cora

o Sol vive com a cara queimada!

Despojada

Foto de BloomyJaz (CC BY-SA 4.0)

É malícia ou coração puro

o que deixa a Lua motivada

a aproveitar que está escuro

pra circular por aí sem nada?

Sobre a Noite

Foto de Alexander Kurilov (CC BY 4.0)

Se parece austera à primeira olhada

basta um juízo mais criterioso

pra notar que ela está toda enfeitada

com a Lua tal qual um broche de ouro

e mais tanta estrela em si incrustada

que quase no céu é Dia de novo!

Pôr do sol

Foto de Philip Halling (CC BY-SA 2.0)

Que a justiça lhe seja dada:

o horizonte não sai mentindo.

Se reduz uma Estrela a nada

ele o faz porque é seu instinto:

com sua boca escancarada

nunca disfarçou que é faminto!

Anoitecer

Foto de Basile Morin (CC BY-SA 4.0)

Em vez de o céu ser discreto

e guardá-lo entre seus dedos

escolhe manter-se aberto

e ostentá-lo sem pejo.

É assim que alguém esperto

o seu brilhante amuleto

de noite, tira de perto

deixando o céu no desejo!

Sobre a Tardinha

Foto de Yamasztuka (CC BY-SA 4.0)

Apesar da aparência delicada

na crueldade ela não mede esforço

pois sempre dá o empurrão que faltava

pro Sol, ao poente, cair num fosso...

Sobre o dente-de-leão

Foto de Tony Hisgett from Birmingham, UK
(CC BY 2.0)

A sua aparência delicada

dissimula o seu mau temperamento:

basta uma provocação de nada

pra perder a cabeça em qualquer tempo!

Evaporação

Foto de Luc Viatour (CC BY-SA 2.5)

O orvalho, sob o Sol, corrobora

que há de fato um divino juízo:

depois da pressão que ele suporta

merece subir pro Paraíso!

Amanhecer

Foto: Firnoia (CC BY-SA 4.0)

Em vez de abatê-lo com seu golpe bruto

(que poria a multidão assustada)

surge então devagar sem um jeito abrupto:

a manhã come o breu pelas beiradas.

Descansado

Foto de Dietmar Rabich (CC BY-SA 4.0)

Seu segredo de beleza é patente:

mesmo "estrela", o Sol não guarda sigilo.

Para amanhecer assim reluzente

à noite se ausenta prum longo cochilo!

Desvantagem

Foto de Friedrich Haag (CC BY-SA 4.0)

O breu inspira piedade

pois ao dia não se confina.

Embora rente à claridade

não usufrui da matina!

Lida

Foto de Pratishkhedekar (CC BY-SA 4.0)

A Noitinha não se intimida:

qualquer labor, ela peita.

Embora com as mãos pequeninas

sujeita o Sol à colheita!

Fim de Tarde

Foto de ManojKRacherla (CC BY-SA 4.0)

Pra Noitinha o Sol é ameaça

e feito David pega uma pedra

estufa o peito e, cheia de raça,

o atinge bem no meio da testa.

Notívagas

Foto: NASA/JPL-Caltech/University of Wisconsin

Da agitação me falam as estrelas

que do escuro não tiram partido:

passam a noite toda bem acesas

em vez de tirarem um cochilo!

Agricultura

Foto de W.carter (CC BY 4.0)

O campo de estrelas exposto,

nem mesmo a escuridão resguarda:

mal o dia chega a seu posto

e a colheita é iniciada.

Labor

Foto de Melv_L - MACASR (CC BY-SA 2.0)

De todo silêncio eu desconfio

porque no tempo em que ele se estende

grandes coisas podem ser forjadas:

a noite dura horas a fio

até que a luz rompe de repente

como se ela viesse do nada!

Sobre a Noitinha

Foto: Everglades NPS
from Homestead, Florida, United States

De "mansa" ela não tem nada

porque o Dia tem na mira

e empunhando sua adaga

o fere e de cena o tira.

Preferência

Foto de Vincenzo Gianferrari Pini (CC BY 4.0)

Ainda que seja aconselhada

a que apenas de dia se ajeite,

mesmo só e sem enxergar nada

para a Lua a noite é que é deleite!

Sobre a Lua

Foto: NASA

Se de dia não reina nada 

e passa o tempo quieta

bem lá dentro é inconformada

e aguardando a hora certa

vai comendo pelas beiradas

até que de noite impera!

Segurança

Foto de Danielxfer (CC BY-SA 4.0)

 

Decerto a Lua no cimo vaga

contudo é firme na sua errância:

mesmo ante a imensidão que lhe é dada

circula sempre na mesma estância!

Raízes

Foto: NASA

De que é apegada, a Lua

quem é que ousa discordar?

No mesmo entorno ela circula

ante o infinito pra explorar!

Dente-de-leão

Foto de Anderson Mancini
from Sao Paulo, Brazil (CC BY 2.0)

Sua postura sossegada

disfarça o que se passa dentro

pois perde a cabeça por nada:

tudo (um sopro) lhe é tormento!

Amor-próprio

Foto de DncnH from Nottingham, UK (CC BY 2.0)

Ainda que lamente, se cala

(ente algum a puxa pela língua):

insetos a deixam despojada

mas a flor nunca se mostra à míngua.

Genuína

Foto de Gabriel Perez Salazar (CC BY-SA 4.0)

Da franqueza a flor me fala

de um jeito nada obtuso:

com sua postura rara

pra quem se achega dá tudo.

Sugestão

Foto de Timothy A. Gonsalves (CC BY-SA 4.0)

Sobre a beleza muito se confabula

quando observar uma flor basta:

pra ela atrair usa mais a doçura

(nem precisava estar tão ornada).

Magnânima

Foto de Gerry Thomasen
from Nanaimo, Canada (CC BY 2.0)

No jardim como quem não quer nada

a Flor mostra delicadeza decerto:

mesmo que a Abelha viva enfezada

aquela a recebe de braços abertos!

O porvir

Foto de cogdogblog

Momento depois de momento

o tempo pra Flor também passa.

Porém ao seu fenecimento

à vista de todos dá asas:

ao que não tem medicamento

ela se sujeita e abraça.

Constatação

Foto de Rootology (CC BY-SA 3.0)

Tem tanta doçura por dentro

que ser lindíssima nem precisava.

Mas a Flor é notório exemplo

de que uns livros se julgam pela capa!

Forte

Foto: Benson Kua from Toronto, Canada
(CC BY-SA 2.0)

Da resiliência toda flor fala

num jardim ou em um vaso com água

sujeita a picadas ou ferroadas

e ao tempo que a murcha - ó bordoada!

Lua

Foto de Satwika02 (CC BY-SA 4.0)

É serena e prestimosa

feito cristã de verdade:

vela a Terra até a aurora 

desde o finzinho de tarde.

Comete um pecado embora

(para uns um tanto grave):

sua figura orgulhosa

nunca dá a outra face!

O vínculo

Foto: NASA

Mesmo com o espaço à disposição dela

guarda uma conservadora postura:

feito criança agarrada à Mãe Terra

só ao seu redor a Lua circula.

Ferrada

Foto de George Hodan

Vulnerável por natureza

dificilmente a flor sai ilesa:

ora encara o ferrão da abelha

ora à ação do tempo se sujeita.

Sobre a Lua

Foto de Jamian (CC BY 3.0)

Chega e empurra o Sol pro poente

num gesto nada aleatório.

A face lhana, reluzente

não conta a culpa no cartório!

Lua

Foto de Erik Drost (CC BY 2.0)

Já que a luz se põe ausente

nua está, sem cerimônia.

Quando enfim o céu se acende

deixa o espaço (com vergonha).

Explicação

Foto: NASA Johnson Space Center

Quem a vê assim nas alturas

conjectura o que a promove?

Sem cargos nem fardos a Lua

de tão leve acaba que sobe!

Céu vermelho

Foto de Francis Vallance (Heritage Warrior)
(CC BY 2.0)

Da covardia a Tardinha fala

com uma voz nítida e muito firme:

diariamente o Dia ela mata

e deixa o arrebol (a marca do crime).

O Feito

Foto de John Samuel (CC BY-SA 4.0)

Não é troço minúsculo

(mas para uns é rotina)

qual Moisés, o crepúsculo

separar noite e dia.

Hesitação

Foto de Rgaudin

Às vezes, pro céu, nem breu nem dia

nem preto nem branco, e sim cinza.

Por ele essa hora se estendia...

Que mal há na indecisão que vinga?

Mas optar é próprio da vida:

para agora noite ou manhãzinha?

Então faz a "escolha de Sophia"

e, assim, o crepúsculo finda!

Boemia

Foto: NOIRLab/ P. Marenfeld (CC BY 4.0)

São bem animadas as estrelas:

na alta noite se divertindo!

Se deixar nem com a manhã acesa

desocupam, do céu, o recinto.

Regência

Imagem de Andrea Stöckel

Mesmo estando a grande distância 

(lonjura que não se percorre a pé)

a Lua, segura e sem ânsia,

qual maestrina conduz a maré!

Sobre a Lua

Foto: NASA

Cai a noite e ei-la soltinha...

Vaga? Sim, mas bem pertinho:

sobre nós se avizinha,

nunca ruma sem destino!

Precavida

Foto de George spanoudakis (CC BY-SA 4.0)

Na mesma rota a Lua é vista 

- o seu apego é pra valer! -

rente à Terra desde a tardinha

até que venha o amanhecer.

A vizinhança é infinita

para ela poder percorrer

porém toma a mesma estradinha

sem o risco de se perder.

Lua

Foto de Richard Humphrey (CC BY-SA 2.0)

Faz parte da plebe e é tão simplória...

O dia todo a botam pra escanteio.

Mas à noitinha prova alguma glória:

assistir ao astro-rei de joelhos.

Sobre a Lua

Foto de Dave Young from New Zealand (CC BY 2.0)

Nômade até a cerviz

a noite inteira ela vaga.

"Nas cercanias", um diz,

"Não é vista em outras plagas".

Oh comentário infeliz:

ela não é apegada!

Se tivesse uma raiz

não partia na alvorada...

Admoestação

Foto de JB Stran

Ó Botão, é muita ingenuidade

querer que tudo a teu modo se ajeite.

Que venha logo a maturidade

pra que a cabeça hermética te deixe!

Entardecer

Foto de Florian Pépellin (CC BY-SA 4.0)

Enquanto chega à cena a Lua

pra tomar seu lugar no cimo,

a Estrela suporta a tortura

de inibir a Oeste o seu brilho.

Anoitecer

Foto de Ed Dunens (CC BY 2.0)

A paixão pela luz é tanta

que a Estrela faz dela o seu norte.

Na hora em que a noitinha avança

e compromete sua sorte

sai de cena sem fazer drama:

brilhar no breu não é seu forte!

Sol

Foto de Daniel Case (CC BY-SA 3.0)

Sonha em sair à francesa

como fato que se oculta

mas tem outra natureza

(dessas, que a todos ofusca)

e com indelicadeza

diante de toda a turba

assim cheio de clareza

evita a hora noturna!