Explicação

Foto: NASA Johnson Space Center

Quem a vê assim nas alturas

conjectura o que a promove?

Sem cargos nem fardos a Lua

de tão leve acaba que sobe!

Céu vermelho

Foto de Francis Vallance (Heritage Warrior)
(CC BY 2.0)

Da covardia a Tardinha fala

com uma voz nítida e muito firme:

diariamente o Dia ela mata

e deixa o arrebol (a marca do crime).

O Feito

Foto de John Samuel (CC BY-SA 4.0)

Não é troço minúsculo

(mas para uns é rotina)

qual Moisés, o crepúsculo

separar noite e dia.

Hesitação

Foto de Rgaudin

Às vezes, pro céu, nem breu nem dia

nem preto nem branco, e sim cinza.

Por ele essa hora se estendia...

Que mal há na indecisão que vinga?

Mas optar é próprio da vida:

para agora noite ou manhãzinha?

Então faz a "escolha de Sophia"

e, assim, o crepúsculo finda!

Vivacidade

Foto: NOIRLab/ P. Marenfeld (CC BY 4.0)

São bem animadas as estrelas:

na alta noite se divertindo!

Se deixar nem com a manhã acesa

desocupam, do céu, o recinto.

Regência

Imagem de Andrea Stöckel

Mesmo estando a grande distância 

(lonjura que não se percorre a pé)

a Lua, segura e sem ânsia,

qual maestrina conduz a maré!

Sobre a Lua

Foto: NASA

Cai a noite e ei-la soltinha...

Vaga? Sim, mas bem pertinho:

sobre nós se avizinha,

nunca ruma sem destino!

Precavida

Foto de George spanoudakis (CC BY-SA 4.0)

Na mesma rota a Lua é vista 

- o seu apego é pra valer! -

rente à Terra desde a tardinha

até que venha o amanhecer.

A vizinhança é infinita

para ela poder percorrer

porém toma a mesma estradinha

sem o risco de se perder.

Lua

Foto de Richard Humphrey (CC BY-SA 2.0)

Faz parte da plebe e é tão simplória...

O dia todo a botam pra escanteio.

Mas à noitinha prova alguma glória:

assistir ao astro-rei de joelhos.

Sobre a Lua

Foto de Dave Young from New Zealand (CC BY 2.0)

Nômade até a cerviz

a noite inteira ela vaga.

"Nas cercanias", um diz,

"Não é vista em outras plagas".

Oh comentário infeliz:

ela não é apegada!

Se tivesse uma raiz

não partia na alvorada...

Admoestação

Foto de JB Stran

Ó Botão, é muita ingenuidade

querer que tudo a teu modo se ajeite.

Que venha logo a maturidade

pra que a cabeça hermética te deixe!

Entardecer

Foto de Florian Pépellin (CC BY-SA 4.0)

Enquanto chega à cena a Lua

pra tomar seu lugar no cimo,

a Estrela suporta a tortura

de inibir a Oeste o seu brilho.

Anoitecer

Foto de Ed Dunens (CC BY 2.0)

A paixão pela luz é tanta

que a Estrela faz dela o seu norte.

Na hora em que a noitinha avança

e compromete sua sorte

sai de cena sem fazer drama:

brilhar no breu não é seu forte!

Sol

Foto de Daniel Case (CC BY-SA 3.0)

Sonha em sair à francesa

como fato que se oculta

mas tem outra natureza

(dessas, que a todos ofusca)

e com indelicadeza

diante de toda a turba

assim cheio de clareza

evita a hora noturna!

Notívago

Foto de Mike Pennington (CC BY-SA 2.0)

Mesmo um bom anfitrião não suporta

a visita com estada prolongada...

O Sol, por exemplo, chega na aurora

partindo com a tarde bem adiantada

e o Céu louco pra ele cascar fora

para enfim deixar a luz apagada:

um ambiente ideal para a hora

em que a Lua chegar à sua casa!

O botão

Foto: Frank "Fg2" Gualtieri

Fechado, no seu cantinho,

tem quem o julgue tacanho.

Mas, se parece arredio

é por não falar com estranhos!

Sobre a Lua

Foto de Lelê Breveglieri from Suzano (CC BY 2.0)

A feição serena disfarça

todo o esforço que faz por horas:

é duro manter-se elevada

só no braço, sem uma escora.

Lua

Foto de Shagil Kannur (CC BY 3.0)

Está ébria por viver girando?

É bem injusto esse pensamento!

Ser algum já a viu tropeçando

em uma estrela no firmamento.

Sol

Foto: Danisaleem (CC BY-SA 4.0)

Por ser radiante disfarça

o seu quê de melancolia:

queria se estender na estada

mas a Lua aguarda na fila.

Mesmo assim dá uma cartada

para ver se enrola a tardinha:

ei-lo, como quem não quer nada...

Caprichando na despedida!

Lua

Foto de Anna Weyers Blades/USFWS

De lunática ou algo que pareça

vez ou outra vão a acusando

mas o fazem sem qualquer clareza

pois de fato é resoluta um tanto:

pode ter nas nuvens a cabeça

contudo sabe onde está pisando!

Borboleta

Foto de Andreas Eichler (CC BY-SA 4.0)

Quem a vê fica admirado:

seu perfil lembra o de uma dama.

Impressão que some num ato

sempre que uma flor ela alcança

pois sua classe vai pro espaço

devido à forma com que avança!

Troca de turno

Foto: BeanieAll (CC BY 4.0)

Dar a vez é gesto de humildade

e, em muitos, como ele demora...

O Sol cheio de intranquilidade

apegado ao posto desde a aurora

só com a Lua à porta - bem mais tarde -

menos esquentado, passa a bola!

Entardecer

Foto: fdecomite
(CC BY 2.0)

Tudo depende da perspectiva -

o óbvio nem sempre se encaixa.

Ao Sol, por seu turno, é relativa

a condição que não julgam máxima:

o ponto em que ele se sente por cima

é a Oeste, onde se rebaixa!

Remanescentes

Foto de Jessie Eastland (CC BY-SA 4.0)

Soa, do apego, o alarme

quando a noitinha vem surgindo:

no horizonte, lascas solares

insistem em ficar no cimo.

Pôr do sol

Foto de Olga Ernst & Hp.Baumeler 
(CC BY-SA 4.0)

Manter-se pendurado no alto

pros seus braços é grande tortura!

Por isso ao final do dia exausto

se desprende... Perdendo a postura.

Sobre a Lua

Foto de Luis Alvaz (CC BY-SA 4.0)

Eis o lustre que, o céu, orna

até ocorrer um acidente:

um esbarrão ganhar da aurora

e, então, cair no poente!

Estrelas

Foto: Pulperm Phungprachit (CC BY-SA 4.0)

Não à toa ficam juntinhas:

no ar, um suspense as reúne.

No breu, não se vê coisa mínima

e a todas o receio pune.

Mas então algo se aproxima

e o pânico geral assume:

atendendo por "Manhãzinha"

uma a uma enfim as sucumbe.

Pôr do sol

Foto de Plenz (CC BY-SA 2.5)

O teu gesto é de uma crueldade...

Quando estás lindo sobremaneira

é justo o momento em que tu partes!

Se deves ir de qualquer maneira

precisavas te exceder no alarde?

Pra quê te delongar na soleira?

Uma Flor

Foto de Amada44

De perfume e cor ornada

sua natureza entrega

que nem quando está fechada

tem qualquer pinta de austera!

Constatação

Foto de Murray Foubister (CC BY-SA 2.0)

Como cai bem no Sol a humildade:

até com a realeza ela combina!

Ao se rebaixar todo fim de tarde

a grandeza dele também se afirma.

Amanhecer

Foto de Alexander Gerst (CC BY-SA 2.0)

O Sol segue o que tem em mente

(nunca para em conjecturas)

vai até aonde pretende:

ocupar o lugar da Lua.

Se não enxerga um palmo à frente

(já que a noite é um tanto escura)

tateia pra achar o nascente

e na alvorada enfim se apruma!

Fina

Foto de George Hodan

Da delicadeza uma flor me fala

através do seu trajeto vivido:

desde a sua postura muito dada

(o que tem, oferta sem empecilho)

até a morte impor sua chegada...

Não se ouve seu último suspiro.

À mercê

Foto: Brocken Inaglory (CC BY-SA 3.0)

Da ingenuidade uma ostra me fala

ao proceder feito um templo barroco:

por fora a simplicidade lhe basta

por dentro um requinte quase acintoso.

Contudo, seu segredo sempre exala

e alcança olhares (que nunca são poucos).

A cobiça alheia acaba entalhada

e só lhe resta um adeus ao tesouro!

Alvorecer

Foto: mypubliclands (CC BY 2.0)

Assim que a manhãzinha chega a Leste

é hora da colheita (com certeza).

Só lamento, pois no campo celeste

cai tão bem ficar coberto de estrelas!

Arrebol

Foto: NARA

Só tem fofura no nome a Noitinha:

como pode ser cruel em seus atos!

Com um corte o Dia, ela elimina

deixando o céu vermelho como rasto.

Altos e Baixos

Foto de David Zhang (CC BY-SA 2.0)

Não é porque algo se empina

que finalmente chega ao topo:

há vezes em que o que declina

acaba dando maior gosto.

Veja o Sol: quando ele sopita

é que fulgura como poucos!

Incauta

Foto de Joselodos

Frugalidade sem senão

requer uma certa prudência:

mesmo sendo boa a intenção,

às vezes beira a intransigência.

Veja a Lua: por opção

quase flerta com a indigência 

zanzando nua, sem roupão

sem ligar se isso é indecência!

Sobre a Lua

Foto de Jakub Hałun (CC BY 4.0)

Quando o breu domina o espaço

e a luz não tem assento

pra quê o rosto disfarçado,

radiante há tanto tempo?

Se nenhum pobre coitado

notaria o seu tormento,

não seria mais sensato

no lugar do fingimento

optar por um só ato

que faz jus ao sentimento?

Gula

Foto de Terry Ballard (CC BY 2.0)

Ei-lo de novo enchendo a boca inteira:

de toda dieta, passa longe.

À tardinha o Sol; mais cedo as estrelas

servem à nutrição do horizonte.

Lua Cheia

Foto: Denali National Park and Preserve (CC BY 2.0)

Sua face radiante engana

já que traz uma agonia velada:

viver há muitas eras o drama

de prosseguir no escuro confinada.

Poente

Foto de Николай Максимович (CC BY 3.0)

É erro de perspectiva

ceder loas a quem se apruma:

do Sol, a hora mais bonita

é justo quando ele se curva.

Resiliência

Foto de Yevtushuk Victor (CC BY-SA 4.0)

À tardinha vai-se o Sol silente

levando um segredo pra tumba:

como continuar reluzente,

quando uma intempérie retumba?

Privilegiada

Foto: Mehr News Agency (CC BY-SA 4.0)

Eis a Lua chegando ao poente

exibindo um dom que é muito raro:

manter sua cara reluzente

depois de passar a noite em claro!

O Ocaso

Foto de Friedrich Haag (CC BY-SA 4.0)

Porque o Sol está abatido

assim meio sem energia

a noitinha com sangue-frio

abrevia-lhe a agonia

com um golpe bem-sucedido

negando sua luz às vistas

ao jogá-lo num precipício

sem direito a uma elegia!

Pavio Curto

Foto de Susanne Nilsson (CC BY-SA 2.0)

A paciência é para poucos

(por que faz um rosto espantado?):

o dente-de-leão - tão fofo -

é exemplo bem-acabado

de que às vezes por nada - um sopro -

a cabeça vai para o saco!

Laudemir Fernandes, o benquisto

Tela: A Adoração dos Pastores (entre 1650 e 1700) -
Autor Desconhecido

Um programa de televisão exibiu, décadas atrás, uma matéria sobre a invisibilidade urbana. Tratava-se da constatação de um pesquisador (ou pesquisadora?) de que as pessoas que trabalham uniformizadas - como o pessoal da limpeza - são invisíveis para os demais. Ou seja: há quem passe por elas sem cumprimentar, sem dizer "Bom Dia". É como se não existissem.

Na Palestina do século I, onde e quando Jesus viveu, havia um fenômeno semelhante. Só que os invisíveis, ou seja, aqueles que eram ou deviam ser ignorados, não vestiam uniformes. Eram simplesmente os "impuros". Nessa categoria, cabiam alguns profissionais, como os pastores; os doentes, como os leprosos; e as mulheres sob certas condições, como estarem menstruadas. Essa gente "impura" tinha de ficar à margem, longe das vistas.

Na manhã da última segunda-feira, dia 11 de agosto, o gari Laudemir de Souza Fernandes, o Lau, estava uniformizado. E ele ousou ficar visível. Ousou sair da margem do olhar do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior e vir para o centro.

Diálogo

Foto de Thomas Bresson (CC BY 3.0)

"Nas alturas de seu cabo

o que ela terá em mente?

Não se incomoda um bocado

nem torce o nariz, silente,

para todo o estardalhaço

dos insetos logo em frente?"

"De jeito algum, ó meu caro,

pois toda flor é carente

e eles podem (não raro)

dar-lhes assim, de repente,

mil e um beijos e afagos

que vão deixá-las contentes!"

Desalento

Foto de Ian L

Por que seu semblante se estarrece?

Não cabe assombro com quem se curva.

Mesmo o Sol à tarde se aborrece

e não mantém ereta a coluna.

Vulnerabilidade

Imagem de Linnaea Mallette

Porque o céu é tão exposto

oferta a sua jugular

a um golpe inamistoso

que tira o dia do lugar

deixando então nesse posto

o breu, estrelas e o luar!

Audácia

Imagem de Linnaea Mallette

Eis a Lua lá no cimo:

só, no breu e sem maldade.

Ao Sol, ela deixa o siso

de atuar na claridade!